Extra! Roubo na natureza

Você já parou para pensar em como as árvores, que ficam paradinhas em seu lugar, fazem para se reproduzir e se espalhar pela natureza? A resposta pode estar, por exemplo, em passarinhos que comem os frutos e carregam pequenas sementes de um lugar a outro. Porém, pesquisadores norte-americanos descobriram que as cutias estão envolvidas na dispersão de grandes sementes de árvores tropicais. Quer saber como?

Cutia

As cutias têm um papel fundamental na dispersão de grandes sementes na natureza (Foto: Christian Ziegler)

Há muito tempo – cerca de dez milhões de anos atrás – existiam mamíferos gigantes chamados gonfotérios. Eles comiam os frutos de palmeiras inteiros e as sementes passavam por seu sistema digestivo intactas, ou seja, saíam inteirinhas no cocô do bicho. Porém, uma coisa intrigou os cientistas: mesmo depois que esses animais foram extintos, as sementes continuaram a se espalhar pela natureza.

A dúvida acaba de ser resolvida. O biólogo Roland Kays, diretor do Museu de Ciência Natural da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, conta que seu grupo de estudo descobriu que as cutias, pequenos roedores das zonas tropicais, assumiram o papel que era dos gonfotérios.

Elas transportam as sementes que caem das árvores pela boca, mas, em vez de comê-las, enterram-nas em outro lugar. “Elas precisam salvar a maioria de suas sementes enterradas para as épocas mais secas, quando não há frutos maduros disponíveis”, explica Roland.

Agora, veja você, algumas cutias são danadas e roubam as sementes enterradas por outras! Usando aparelhos de rastreamento, os cientistas descobriram que essa ladroagem faz com que uma mesma semente possa ser enterrada dezenas de vezes, chegando a distâncias de até 100 metros da sua árvore de origem. Com isso, as sementes vão mais longe e, como consequência, as árvores também.

“É possível pensar que as cutias faziam esse trabalho inclusive quando os gonfotérios estavam vivos”, explica o antropólogo Ben Hirsch, do Instituto Smithsonian, também nos Estados Unidos.

Ele conta ainda que, no Brasil, existem outros roedores que fazem a dispersão das sementes dessas palmeiras, e isso é mais um motivo para preservar essas espécies. “A caça a esses roedores pode ter um efeito negativo sobre as árvores na floresta”, alerta.