Gol contra a natureza

Uma das principais ameaças ao cerrado é o fogo causado por longos períodos de seca, como o que atingiu o Parque Nacional das Emas (GO) em 2000. (foto: Haroldo Castro / Conservação Internacional)

Rico e ameaçado. Assim é o cerrado. A cada minuto, é destruída uma área equivalente a 2,6 campos de futebol na região, um ritmo de devastação dez vezes maior do que o da mata atlântica. Os dados — parte de um estudo feito pela Conservação Internacional, uma organização não-governamental voltada para a preservação do meio ambiente — indicam que o cerrado pode desaparecer até 2030 caso a destruição continue igual à que se vê hoje.

Pelas características de seu terreno e por ser fácil de desmatar, o cerrado é considerado um bom lugar para a agricultura e a pecuária. E é isso que o põe em risco. A destruição desse bioma começou na década de 1960, quando a construção de estradas facilitou a chegada de muitos criadores de gado. Pouco depois, na década de 1980, foi a vez de as plantações invadirem a região. Com a agricultura mecanizada de soja, algodão, milho e girassol, a vegetação nativa foi rapidamente removida.

Dos 204 milhões de hectares ocupados pelo cerrado no passado, a maior parte já foi desmatada. Da área que sobrou, metade foi bastante modificada pelo homem e não conserva as características e a variedade de plantas e animais originais. A cada ano, estima-se que dois milhões de hectares do cerrado são desmatados, sendo que as áreas mais afetadas estão em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Minas Gerais, além do oeste da Bahia.

Grande parte do desmatamento é causado pela agricultura e pecuária, que separam a vegetação original do cerrado em pequenas áreas, como em Alcinópolis/MS (foto: Mario Barroso / Conservação Internacional)

Para Ricardo Machado, diretor regional da Conservação Internacional para o cerrado, isso acontece porque muitos pensam que esse bioma, por ter grande extensão, não corre o risco de acabar. “Como o cerrado não é composto de densas florestas tropicais, várias pessoas o tratam apenas como um escudo protetor da Amazônia e, então, preferem destruí-lo a destruir a famosa floresta”, completa o biólogo.

Se a degradação continuar, no entanto, o cerrado pode desaparecer até 2030. Já imaginou que perda isso representaria para o Brasil e o mundo? Pois é para reverter esse quadro que, há três anos, pesquisadores da Conservação Internacional procuram formas de recuperar as áreas já afetadas e evitar a destruição de outros ambientes.

Esses profissionais, por exemplo, estudam a vegetação nativa por meio de imagens enviadas por satélite e, assim, podem descobrir onde está ocorrendo o desmatamento e elaborar uma estratégia de conservação. Mas não é só. “Nós criamos também os chamados ‘corredores de biodiversidade’, que são conjuntos de áreas protegidas”, explica Machado. “Ao contrário das reservas tradicionais, que ficam isoladas de outros ecossistemas e tipos de vegetação, os corredores reconstituem melhor a realidade do cerrado, em que vários ambientes diferentes mantêm contato e permitem que os animais passeiem entre eles.”

Ampliar as áreas protegidas, porém, é apenas o primeiro passo. Segundo os pesquisadores, é necessário ainda acabar com as queimadas, reduzir a caça aos animais selvagens e impedir que mais áreas sejam desmatadas para a agricultura. Só assim será possível preservar as milhares de espécies que vivem no cerrado!

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