História de um violeiro

Ouvir música é muito legal. E tocar é mais divertido ainda! Agora, imagine só: quanto talento é preciso para se construir um instrumento musical? Dar vida à madeira bruta  e transformá-la em notas musicais gostosas de ouvir é uma arte!

Duas das mais antigas violas brasileiras conhecidas. Lindas, não? Elas são do final do século 19, ou talvez do início do século 20 (Imagem: Divulgação/Unesp/Paulo Castagna)

Duas das mais antigas violas brasileiras conhecidas. Lindas, não? Elas são do final do século 19, ou talvez do início do século 20 (Imagem: Divulgação/Unesp/Paulo Castagna)

A construção de instrumentos musicais é uma atividade conhecida como luteria. O profissional que a exerce chama-se luthier. E não é que historiadores descobriram, recentemente, um documento que nos mostra quem foi o primeiro luthier de quem temos notícia no Brasil?

Figura de um violeiro, em um painel residencial mineiro do século 18, exposto no Museu Histórico Regional de São João del-Rei, em Minas Gerais (Imagem: Divulgação/Unesp/Paulo Castagna)

Figura de um violeiro, em um painel residencial mineiro do século 18, exposto no Museu Histórico Regional de São João del-Rei, em Minas Gerais (Imagem: Divulgação/Unesp/Paulo Castagna)

Seu nome era Domingos Ferreira (1709-1771), um português que vivia em Ouro Preto (MG). Seu testamento foi encontrado pela historiadora Maria José Ferro de Souza, da Universidade Federal do Ouro Preto (Ufop), no Museu da Inconfidência. O velho documento – que devia estar até empoeirado! – revela que, naquela época, a música popular era muito mais tocada e ouvida do que os pesquisadores imaginavam!

“Percebemos, pelo seu testamento, que Domingos Ferreira fabricava e vendia centenas de violas e instrumentos semelhantes, que eram usados em danças e canções populares”, conta o musicólogo Paulo Castagna, da Universidade Estadual Paulista.

A especialidade de nosso personagem era construir violas-de-mão – uma espécie de violão pequeno, semelhante ao que conhecemos hoje como viola caipira.

Pesquisadores sempre imaginaram que composições religiosas eram as principais músicas tocadas e ouvidas naquela época. “Mas parece que a música popular era muito mais disseminada do que pensávamos”, diz Paulo.

Partitura de uma modinha, um dos gêneros populares muito conhecidos no Brasil colonial (Imagem: Divulgação/Unesp/Paulo Castagna)

Partitura de uma modinha, um dos gêneros populares muito conhecidos no Brasil colonial (Imagem: Divulgação/Unesp/Paulo Castagna)

“A música popular chegou a ser até proibida pela igreja católica em vários momentos da história do Brasil”, disse à CHC Online a historiadora Maria Teresa Gonçalves Pereira, também da Ufop. “O testamento parece deixar bem claro que, ainda assim, ela era intensamente tocada e ouvida na época de Domingos Ferreira!”