Em todos os lugares do mundo onde se celebra o Natal, os dias 24 e 25 de dezembro são sinônimos de festa em família e de alegria. No Brasil, é verão: tempo de sol e calor. Já na Europa, é inverno: há gelo, neve, dias mais curtos. Seja no Brasil ou na Europa, porém, algo muito especial une as pessoas no Natal: a canção Noite Feliz.
Talvez você não saiba, mas essa música foi criada há cerca de 200 anos, em um pequeno vilarejo da Áustria, chamado Oberndorf. Na época, a região vivia tempos difíceis: aconteciam guerras, a população passava fome e o frio era um grande problema.
Dezembro de 1818 foi especialmente frio na Áustria. Uma semana antes do Natal, nevou por dias. Os caminhos e as estradas ficaram bloqueados e apenas em casos de emergência via-se um médico ou uma parteira dirigindo-se a alguma casa em trenós.
Na noite de 23 de dezembro, Josef Mohr, o jovem que cuidava da igreja local, passou um bom tempo sentado à sua mesa observando a vela que lhe proporcionava luz e calor. Estava muito frio em seu quarto e cristais de gelo reluziam junto à janela. Até a água da sua bacia de banho havia congelado. Josef Mohr sentia-se triste e só. Ele não tinha família: sua mãe havia falecido há muito tempo e seus irmãos viviam em vilarejos distantes.
Josef Mohr começou a refletir sobre o dia de Natal e o que ele representa: a comemoração dos cristãos pelo nascimento de Jesus Cristo, filho de José e Maria, em um estábulo em Belém. Ao pensar nessa família, algumas frases vieram à sua cabeça e ele decidiu anotá-las. Nascia a letra da canção Noite Feliz, que, em português, começa assim: “Noite feliz, noite feliz/ Ó senhor, Deus de amor/ Pobrezinho, nasceu em Belém/ Eis, na lapa, Jesus, nosso bem/ Dorme em paz, ó Jesus/ Dorme em paz, ó Jesus.”
A letra vira música
Na manhã do dia 24 de dezembro, Josef Mohr estava decorando o pinheiro com estrelas de palha e velas quando a pessoa responsável por tocar órgão durante a missa de Natal chegou à igreja. Era o professor Franz Gruber. Ele dirigiu-se ao instrumento musical, mas logo percebeu que nenhum som saía dele. Após repetidas tentativas, descobriu por que isso ocorria: um camundongo havia roído o instrumento, quebrando-o.
O Natal estava ameaçado. As pessoas chegariam de longe para assistir à missa natalina, após terem caminhando por várias horas na neve, e a expectativa de ouvir as canções e a música do órgão seria grande. Mas… o que poderia ser feito?
Josef Mohr teve uma idéia. Timidamente mostrou ao professor os versos que havia escrito na noite anterior. Franz Gruber já havia composto pequenas peças musicais em outras ocasiões, então, será que ele não poderia musicar as linhas escritas por Josef Mohr? Franz Gruber começou a ler. O texto o agradou e as notas foram fluindo para o papel.
Havia, porém, mais um obstáculo a ser vencido. O reverendo Georg Nöstler, o padre extremamente rígido de Oberndorf, não admitia missas que não fossem realizadas em latim. Isso era comum naquela época: as pessoas freqüentavam a missa e rezavam, mas, na verdade, não entendiam o que se passava no altar, pois a língua falada na igreja não era a do cotidiano – no caso, o alemão. Qual seria a reação do reverendo ao saber que seria cantada uma música na língua usada pelo povo no dia-a-dia?
Perto da meia-noite, na hora da Missa do Galo, a igreja de Oberndorf estava iluminada por velas e repleta de pessoas: homens, mulheres, crianças, todos cobertos por mantos de lã, usando toucas e luvas, e com os pés envoltos em peles. Ao final da missa, o reverendo olhou para o órgão, indicando a Franz Gruber que começasse a tocar. O órgão, entretanto, permaneceu mudo. Em vez disso, Josef Mohr e Franz Gruber dirigiram-se ao altar e começaram a cantar, acompanhados por um violão.
As pessoas ouviram admiradas, pois conseguiam entender as palavras cantadas. Eram palavras em alemão – e não em latim. Quem estava na igreja até tentou acompanhar a canção. Quando Mohr e Gruber a cantaram pela segunda vez, alguns já cantarolavam algumas palavras. Até mesmo o reverendo a acompanhou.
Nessa noite de Natal do ano de 1818, algo muito especial havia acontecido. Havia sido apresentada pela primeira vez uma canção natalina que passaria a ser cantada em todo o mundo, nas mais diversas línguas, nas mais variadas culturas, e transpondo todas as barreiras geográficas: Noite Feliz!
A música e a melodia permanecem inalteradas até hoje, quase 200 anos após serem apresentadas ao público pela primeira vez.