Laboratório entre as estrelas

Marcos Pontes a bordo da Estação Espacial Internacional: o astronauta brasileiro tem dormido junto aos experimentos que realiza no espaço.

Em entrevista transmitida direto do espaço, o astronauta brasileiro Marcos César Pontes revelou que tem dormido, por escolha própria, junto aos experimentos que realiza a bordo da Estação Espacial Internacional. “Gosto de ter as coisas sob controle, de ter perto de mim as experiências. Acordo de madrugada para verificar se está tudo bem”, explicou.

Dois dos experimentos que Marcos Pontes realiza no espaço, você conheceu há poucos dias aqui na CHC On-line: em um deles, o astronauta separou os pigmentos que formam a clorofila, a substância que dá cor verde aos vegetais. No outro, ele acompanha diariamente a germinação de sementes de feijão. Em ambos, Marcos Pontes conta com a ajuda de crianças e jovens aqui na Terra. Esses, no entanto, não são os únicos experimentos que o astronauta desenvolve no espaço. No total, ele levou oito na bagagem. Então, que tal conhecer mais alguns deles?

Para a Estação Espacial Internacional, Marcos César Pontes levou, além de sementes de feijão, sementes de uma árvore do cerrado: a gonçalo-alves ( Astronium fraxinifolium ). O objetivo do experimento a ser realizado com elas – que já está em andamento – é verificar qual efeito da microgravidade sobre a germinação da espécie. Tanto é que o desenvolvimento das sementes de gonçalo-alves cultivadas no espaço será comparado ao de sementes cultivadas na Terra. A gonçalo-alves foi escolhida para esse experimento porque, entre outras razões, tem germinação rápida, permitindo assim que resultados sejam obtidos com esse estudo mesmo com a curta duração do vôo do astronauta brasileiro, que já retorna à Terra no sábado, dia 8 de abril.

A árvore gonçalo-alves (à esquerda), que cresce no cerrado: suas sementes (à direita) foram enviadas ao espaço.

Nem só de sementes, germinação e plantas, porém, vive o laboratório do astronauta brasileiro na ISS. Outro experimento que Marcos Pontes desenvolve no espaço, por exemplo, tem a ver com a área de engenharia e envolve tubos de calor. Você sabe o que é isso? Na Terra, os tubos de calor são usados em equipamentos eletrônicos como os computadores portáteis. Sua função é levar o calor de uma região mais quente para outra mais fria com o intuito de controlar a temperatura do aparelho.

Embora eles sejam muito usados no nosso planeta, pouco se sabe sobre o desempenho dos minitubos de calor em um ambiente de microgravidade, como o espaço. Será que lá eles também funcionariam apropriadamente? Para tentar responder a essa questão, o astronauta brasileiro realiza um experimento com esses equipamentos. Caso seja comprovada a eficácia dos minitubos de calor, eles poderão ser empregados no controle de temperatura de equipamentos eletrônicos em veículos espaciais.

Um outro experimento conduzido pelo astronauta brasileiro também tem a ver com controle de temperatura, só que em satélites. O intuito é desenvolver e aperfeiçoar o conhecimento sobre esse tipo de controle, que pode trazer muitos benefícios ao nosso país. Afinal, hoje, os dispositivos usados para controlar a temperatura nos satélites brasileiros são comprados de outros países. Quem sabe no futuro não desenvolvemos nós mesmos esses equipamentos?

Entre os três outros experimentos realizados por Marcos César Pontes a bordo da ISS, há um que utiliza como matéria-prima a substância responsável pelo brilho dos vaga-lumes, cuja análise pode contribuir, por exemplo, para o desenvolvimento de medicamentos de ação mais rápida. Há ainda outro experimento em que são observadas enzimas que quebram moléculas de gordura, gerando a frutose, um açúcar com grande poder adoçante, sendo que ambas já estão em andamento.

O único experimento que ainda não foi iniciado irá avaliar qual a influência da radiação sobre as atividades que ocorrem no interior das células em um ambiente de microgravidade. Mas isso é questão de tempo. Afinal, cada experimento, como podemos ver, tem sua importância. Portanto, não é à toa que o astronauta brasileiro tem dormido em seu “local de trabalho”.

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