Zatiamáre e sua mulher, Kôkôterô, tiveram um casal de filhos: um menino, Zôkôôiê, e uma menina, Atiôlô. O pai amava o filho e desprezava a filha. Se ela o chamava, ele lhe respondia por meio de assobios; nunca lhe dirigia a palavra.
Desgostosa, Atiôlô pediu à sua mãe que a enterrasse viva, pois assim poderia ser útil aos seus. Depois de longa resistência ao estranho desejo, Kôkôterô acabou cedendo aos pedidos da filha e a enterrou no meio do cerrado. Porém, ali ela não pôde resistir, por causa do calor, e pediu à sua mãe que a levasse para o campo, onde também não se sentiu bem. Então, mais uma vez suplicou à Kôkôterô que a mudasse para outra cova, esta última aberta na mata, e ali sentiu-se à vontade. Então, pediu à sua mãe que se retirasse, recomendando-lhe que não voltasse os olhos ao ouvir seus gritos.
Depois de muito tempo, Atiôlô gritou e Kôkôterô voltou-se rapidamente. Viu, no lugar onde enterrara a filha, um arbusto muito alto, que logo se tornou rasteiro, assim que se aproximou. Tratou, então, da sepultura. Limpou o solo. A plantinha foi se tornando cada vez mais viçosa. Mais tarde, Kôkôterô arrancou do solo a raiz da planta: era a mandioca. O casal chamou-a de Ojakôrê; os Parecis, depois, deram-lhe o nome de Kêtê.
* Adaptado de ROQUETTE-PINTO, E. Rondonia: anthropologia – ethnographia. 7. ed. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; Academia Brasileira de Letras, 2005.