Loucos por ti, América

O vaso acima foi encontrado em Santarém, no Pará. Ele pertence à cultura tapajômica e foi feito em cerâmica entre os séculos 14 e 16. Os detalhes mostram figuras humanas e animais.

Talvez você já tenha ouvido falar de maias, incas e astecas. Mas será que sabe quem eram os zapotecas? Que tal mochica, nazca ou huari? Todos esses nomes esquisitos são de civilizações que viveram aqui pertinho, no mesmo continente que a gente, a América. Elas moraram aqui muito antes da chegada de Cristóvão Colombo, em 1492. Apesar disso, quase nenhum de nós sabe sobre a cultura, a arte e a ciência nessas civilizações que não tinham nada de primitivas. Apresentar ao público brasileiro esse passado meio esquecido é o objetivo da exposição Por Ti América , em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

Este vaso de cerâmica da cultura Tembladera tem mais de 2000 anos! O vaso representa uma coruja, animal noturno que era adorado por esse povo.

A exposição reúne 350 peças de 50 das cerca de 70 civilizações diferentes que povoaram o México e as Américas Central e do Sul, originárias de 11 instituições e museus de sete países. “Nunca haviam sido reunidas peças de tantos povos americanos”, conta Helena Bomeny, coordenadora educacional da mostra. “É um acervo bastante representativo da diversidade dos povos da América.” Além de muitas peças de cerâmica, há artefatos feitos de pedra, osso e ouro. Objetos de madeira, couro e tecido também estão expostos, mas são mais raros, pois a maioria das civilizações americanas vivia em regiões quentes e úmidas, clima que não favorece a preservação desses materiais.

Feita em cerâmica, a peça acima ficava na entrada do templo asteca para a divindade do fogo e era usada para guardar brasas. Ela foi feita entre os séculos 12 e 15.

Mas será que essas civilizações tiveram relações umas com as outras? Quando os europeus chegaram aqui, além de encontrarem povos com avançados conhecimentos em várias áreas, perceberam que muitos se espalhavam por vastos territórios ou costumavam trocar bens ou conhecimentos uns com os outros. Essa interação pode ser notada, por exemplo, na existência de muitas características comuns na maioria dessas sociedades. Por exemplo: muitas interpretavam o mundo de maneira parecida ou tinham idéias religiosas semelhantes. Em várias culturas o milho era considerado um alimento sagrado e o mundo era visto como sendo formado por ciclos: noite e dia, frio e quente (estações do ano), nascimento e morte.

Esta peça era usada para enfeitar o nariz de membros da elite da cultura Tairona, na Colômbia, durante festividades. Ela foi feita em ouro em forma de mariposa, entre os séculos 12 e 16.

A religiosidade desses povos que viveram na América também é uma de suas características mais marcantes. Eles guerreavam entre si – como pode ser visto nas pinturas de sala do templo de Bonampak, reproduzida em tamanho real na exposição – e praticavam uma série de rituais, em ocasiões específicas (guerra, casamento etc) em honra dos deuses, para manter o equilíbrio do universo. Quem visitar a exposição Por Ti América pode ver encenações de muitos dos mais importantes desses ritos todos os dias da semana, às 17h, e pequenas encenações durante todo o dia.

Encontrada no México, a estatueta acima foi feita entre os séculos 7 e 9 antes de Cristo! Ela representa um xamã (espécie de feiticeiro) e era usada em rituais.

O mundo animal também significava muito para nossos antepassados americanos. Seus deuses, em geral, apresentavam características de animais como o jaguar, a baleia, o macaco, a serpente, o urubu-rei ou misturavam elementos de vários deles. É por isso que os animais são o tema mais comum das pinturas e esculturas das civilizações pré-colombianas. Além de bonitos, tais objetos eram feitos com funções religiosas: podiam representar ou ser utilizados em ritos. Em sociedades divididas em camadas sociais bem rígidas, os artefatos serviam também para diferenciar os representantes de cada grupo.

Esta é uma túnica rara da cultura Ica, muito bem conservada. Ela foi feita com penas de aves tropicais e representa animais andinos.

Mas se você está pensando que a exposição trata só do passado do nosso continente, errou completamente! Esses povos também fazem parte do nosso presente. No Brasil não damos a merecida importância a essas culturas porque quase não temos contato com elas. “Nossos índios vivem isolados”, afirma Helena. “Nos países vizinhos, os descendentes dessas civilizações vivem nas grandes cidades, apesar de não terem condições de vida muito boas.” Dessa forma, o maior objetivo da exposição é incentivar os brasileiros a saber mais sobre sua própria terra, como acontece no resto da América Latina. Então, não perca tempo: visite a exposição e saia de lá com conhecimentos para dar e vender!

Exposição Por Ti América
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66, Centro – Rio de Janeiro/RJ.
Até 29 de janeiro de 2006. Grátis!
Informações: (21) 3808-2020 ou
pelo e-mail ccbbrio@bb.com.br