Máquina do tempo

As horas não passavam. Estávamos todos alinhados, em pé, e a professora perguntava a cada um:

— Quanto é nove vezes sete?

Tique… Taque… Tique… Taque… E nem dava tempo para um novo tique… Lá vinha uma varada na mesa!

— QUANTO É NOVE VEZES SETE? SEEEEEEENNNNNNTTAAAA!!!! O próximo!

Parece estranho ver uma professora agindo assim? Pois sou da época em que as crianças sofriam castigos severos na escola, onde o tempo, por vezes, parecia não passar. Tínhamos certeza de que havia algo errado, por exemplo, com aquele relógio que ficava dependurado ao lado de um crucifixo (para o qual, aliás, rezávamos e fazíamos promessas). Era tiquetaque, tiquetaque e… o ponteiro parecia jamais sair das 11 horas. E haja varada a cada nove vezes oito, seis vezes nove, sete vezes oito e outras multiplicações da tabuada que sempre ficavam perdidas e esquecidas dentro de algum neurônio.


O tempo não passava e meu desejo — assim como o de todos os meus colegas — era a existência de uma máquina milagrosa que nos transportasse para um tempo distante daquele martírio.

E quem já não pensou em viajar pelo tempo? Entrar em uma máquina que nos transportasse para o passado ou, então, até o futuro. Reaproveitar momentos guardados na memória que foram prazerosos, pular os desagradáveis, vislumbrar um futuro que seja melhor! É um sonho de muitos. Mas você sabia que isso é possível quando desejamos conhecer a história da Terra? Sim, dá para retornar ao passado e conhecer o futuro a partir do presente.

Passado e futuro revelados
Há mais de 200 anos, um geólogo escocês chamado James Hutton, ao observar os ambientes naturais, notou que ações que ocorrem diariamente — como a erosão, o transporte e a deposição feitos pelos rios, pelo vento, pelo gelo e pelo mar — poderiam ser usadas para interpretar a origem das rochas sedimentares formadas há milhões de anos. Assim, este cientista indicou que, se compreendêssemos os fenômenos atuais da natureza, poderíamos interpretar as informações contidas nas rochas sobre a história do passado da Terra.

Retrato de James Hutton feito pelo pintor Henry Raeburn.

Mas esse não é o único jeito de viajar no tempo. O estudo dos fósseis também é uma passagem garantida rumo ao passado. Isso porque alguns se preservam de maneira excepcional. Neles, podemos encontrar os órgãos internos e até mesmos os músculos de seres que viveram na Terra em épocas distantes.

Fósseis como este, muito bem preservado, são uma amostra da vida que existiu no passado da Terra (foto: Petter Bøckman).

As janelas para as viagens no tempo, como as rochas ou os fósseis, nos mostram ainda outro aspecto interessante. Assim como antigos mares se transformaram em montanhas ou florestas terminaram como grandes desertos, o momento em que vivemos sempre reflete o nosso passado. Todos os ambientes existentes na Terra, com suas plantas e animais, são o produto das transformações de milhares ou mesmo milhões de anos. E o futuro? Como conhecê-lo? Para tanto, não é preciso máquina do tempo. Basta olharmos o tempo presente, que, no futuro, terá sido o nosso passado.

Ismar de Souza Carvalho
Departamento de Geologia
Universidade Federal do Rio de Janeiro