Minas não tem mar?

De belezas naturais à saborosa culinária, o estado de Minas Gerais tem seus encantos. Entretanto, para os fãs de um bom mergulho no mar, o local não é o destino preferido, já que não há praias por lá. Mas parece que nem sempre foi assim – no passado, o território mineiro já foi banhado pelo oceano.

No passado, o território mineiro foi banhado pelo oceano. (foto: Pedro Strikis)

No passado, o território mineiro foi banhado pelo oceano. (foto: Pedro Strikis)

É o que geólogos e paleontólogos da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) acabaram de descobrir. Eles encontraram no município de Januária, no norte de Minas Gerais, fósseis de um antigo animal marinho conhecido como Cloudina.

A ideia de bisbilhotar pela região em busca desses animais pré-históricos foi do geólogo Lucas Warren, professor da Unesp. Em 2012, ele tinha encontrado esses mesmos tipos de restos fósseis de animais lá no Paraguai, em um local que tinha algumas características geológicas semelhantes ao que se vê no norte mineiro.

Fósseis de um antigo animal marinho conhecido como (i) Cloudina (/i) ajudam a comprovar que Minas Gerais já teve um litoral no passado. (foto: Lucas Warren)

Fósseis de um antigo animal marinho conhecido como (i) Cloudina (/i) ajudam a comprovar que Minas Gerais já teve um litoral no passado. (foto: Lucas Warren)

Lucas teve, então, a ideia de conferir se fósseis desses bichos também poderiam ser encontrados em Minas Gerais. Seus colegas – um grupo de biólogos, geólogos e paleontólogos – se animaram com o desafio e logo organizaram uma expedição em busca desses registros.

O pessoal trabalhou duro ao longo de dez dias, escavando e procurando pistas em uma unidade geológica conhecida como grupo Bambuí. São 300 mil quilômetros quadrados entre Minas Gerais, Bahia, Tocantins e Distrito Federal. E, para a surpresa de todos, a suspeita de Lucas estava mesmo correta.

“Encontramos, de fato, fósseis do gênero Cloudina na região”, conta o pesquisador da Unesp. E mais: eles acharam também fósseis do gênero Corumbella, outro animal marinho, o que comprova que havia mesmo um oceano em Minas Gerais. Mas isso já faz um bom tempo – cerca de 550 milhões de anos atrás, em um período que os geólogos conhecem como Ediacarano.

Outro fóssil de animal marinho encontrado no norte de Minas foi o (i) Corumbella (/i). (foto: Lucas Warren)

Outro fóssil de animal marinho encontrado no norte de Minas foi o (i) Corumbella (/i). (foto: Lucas Warren)

Naquela época, a América do Sul – e, portanto, também Minas Gerais – não ficava onde fica hoje. Na verdade, ela fazia parte de um supercontinente chamado Gondwana, formado cerca de 600 milhões de anos atrás por terras que, depois de separadas, originaram a maioria dos territórios que atualmente compõem o hemisfério sul.

Encontrados em Bambuí, os trombólitos são rochas formadas pela precipitação de carbonato produzido por cianobactérias que precisam da luz para sobreviver. (foto: Pedro Strikis)

Encontrados em Bambuí, os trombólitos são rochas formadas pela precipitação de carbonato produzido por cianobactérias que precisam da luz para sobreviver. (foto: Pedro Strikis)

E será que o mar mineiro era muito fundo? “Não era, não”, diz Lucas. “Uma das rochas encontradas na região são os chamados de trombólitos. Elas se formam a partir da precipitação de carbonato na água, que é produzido por cianobactérias”. Tais bactérias viviam na água e precisavam fazer fotossíntese para gerar energia, dependendo da luz. Logo, se os mares fossem muito profundos, elas não teriam contato com a luz do sol e não poderiam sobreviver.

Lucas conta, também, uma curiosidade: o mesmo oceano que antigamente banhava Minas Gerais, banhava também territórios que são hoje Uruguai, Argentina, Antártida e Namíbia. Incrível, não é mesmo?