Mistério resolvido

Calor, ventos fortes, clima úmido, viagens cansativas e dificuldades de navegação. Desde 2009, um grupo de pesquisadores brasileiros e estrangeiros encara essas dificuldades para desvendar um mistério: a presença de grandes quantidades de gás carbônico na foz do rio Amazonas.

Delta do rio Amazonas. As plantas realizam fotossíntese para produzir seu alimento a partir da energia solar. Nesse processo, as células vegetais capturam o gás carbônico da atmosfera e liberam oxigênio – essa troca recebe o nome de sequestro de carbono. Já durante a decomposição das plantas, acontece o inverso: o oxigênio é capturado e o gás carbônico, liberado na atmosfera (Foto: Nasa)

Delta do rio Amazonas. As plantas realizam fotossíntese para produzir seu alimento a partir da energia solar. Nesse processo, as células vegetais capturam o gás carbônico da atmosfera e liberam oxigênio – essa troca recebe o nome de sequestro de carbono. Já durante a decomposição das plantas, acontece o inverso: o oxigênio é capturado e o gás carbônico, liberado na atmosfera (Foto: Nasa)

Na natureza, o gás carbônico é liberado por meio da decomposição de materiais orgânicos, como folhas, troncos de árvores e até animais mortos. Em geral, isso acontece no solo, onde bactérias e outros microrganismos digerem as moléculas orgânicas. Porém, o novo estudo mostrou que as águas amazônicas também têm esta capacidade de “digerir” árvores e outros materiais, graças à presença de bactérias e fungos decompositores.

Antes do estudo, os cientistas acreditavam que o rio servia somente como um tubo que levava elementos da floresta para o mar – esses materiais passariam pelo rio intactos e a decomposição viria somente depois, quando eles já estivessem depositados no fundo do oceano. Como explicar, então, os altos níveis de gás carbônico nas águas?

A solução para o mistério estava em uma molécula vegetal chamada lignina. “Ela é responsável por estocar 30% do carbono da floresta”, conta o oceanógrafo Nick Ward, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. “Por décadas, os cientistas acreditaram que ela não podia ser decomposta por organismos aquáticos, mas descobrimos que isso não é verdade”.

Pesquisadores coletaram amostras de água do rio Amazonas e verificaram a presença de gás carbônico. Eles também avaliaram o estado de decomposição de uma molécula vegetal chamada lignina, e concluíram que o rio contém microrganismos capazes de digeri-la (Foto: Daímio Chaves Brito)

Pesquisadores coletaram amostras de água do rio Amazonas e verificaram a presença de gás carbônico. Eles também avaliaram o estado de decomposição de uma molécula vegetal chamada lignina, e concluíram que o rio contém microrganismos capazes de digeri-la (Foto: Daímio Chaves Brito)

Durante a pesquisa, os pesquisadores coletaram amostras da água do rio Amazonas e verificaram a quantidade de gás carbônico e o estado de decomposição de mais de 100 tipos de moléculas de lignina. O engenheiro Alan Cunha, da Universidade Federal do Amapá, explicou à CHC que ainda não se sabe exatamente que microrganismos são responsáveis por digerir a molécula.

“Existem perguntas que ainda precisam ser respondidas, mas a pesquisa demonstra a importância dos rios no balanço global do carbono, pois o que a floresta sequestra, o rio libera”, diz o cientista. O gás carbônico na atmosfera é considerado um dos principais gases de efeito estufa (saiba mais na CHC 97), mas está presente naturalmente no rio Amazonas desde a sua formação.