Alemanha, 1927. Um jovem visita um jardim botânico em Berlim. Lá, fica encantado com a beleza de uma planta. De repente, a surpresa: a espécie era tão brasileira quanto ele!
De volta ao Brasil, o rapaz, chamado Roberto Burle Marx, seria o primeiro a usar a flora nativa em jardins brasileiros e se tornaria o maior paisagista do país!
Em 2009, se estivesse vivo, Burle Marx completaria 100 anos de idade. Então, vamos conhecê-lo?!
Uma infância artística
Você sabe o que faz um paisagista? Esse profissional projeta o espaço livre da cidade: praças, ruas, calçadas, parques e jardins. Se você não conhece Burle Marx, com certeza já ouviu falar de algumas de suas obras ou até mesmo já passeou por elas! Quer ver só? O Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro, por exemplo, é uma obra de Burle Marx! Também foram projetados por ele o jardim do aeroporto de Pampulha, em Belo Horizonte, e alguns espaços do Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Viu só?
Mas, para conhecer melhor esse artista, precisamos voltar um pouquinho no tempo. Filho de um imigrante alemão, Burle Marx nasceu em 4 de agosto de 1909 e sempre conviveu com diversos tipos de arte em família, como a música e a pintura. Com o incentivo da mãe e da babá, começou a se interessar também por cultivar plantas. “Ele fazia do jardim de casa o seu espaço de experimentação e, na adolescência, já produzia para floriculturas locais”, conta sua sobrinha-neta, a escritora Paula Browne, que lançou recentemente o livro Vários mundos – Burle Marx além das paisagens, que conta a história de Violeta, uma adolescente que descobre na obra de Burle Marx um novo olhar sobre a vida, em meio ao cotidiano da escola, de amizades e romances.
A planta brasileira
Quando Burle Marx tinha 18 anos, seu pai levou a família para uma viagem à terra natal dele, a Alemanha. Lá eles frequentaram museus, óperas e jardins. Pronto! Voltamos ao início da história: o marcante encontro de Burle Marx com uma planta brasileira em um jardim da Europa! Mas o que isso tem de tão surpreendente?
Naquela época, nem se cogitava a possibilidade de utilizar plantas brasileiras para ornamentar jardins. O costume no país era contratar jardineiros estrangeiros e importar sementes de flores europeias, como a rosa. “A vegetação brasileira era considerada mato, não tinha valor para ornamentar jardins”, explica Paula Browne.
Imagine, então, a surpresa de Burle Marx ao encontrar uma planta brasileira no jardim botânico de Berlim! Pessoas de fora davam às plantas brasileiras um valor que elas não tinham em seu próprio país! Estava na hora de mudar essa história. “Burle Marx foi o primeiro a utilizar plantas brasileiras em projetos paisagísticos”, conta a sobrinha-neta do artista.
Mil e uma habilidades
A importância de Burle Marx, porém, não para por aí. Seus projetos são considerados obras de arte. Além de paisagista, ele também foi pintor, cantor, desenhista, escultor, criador de joias, tapeceiro… Ufa! Todas essas atividades exerceram influência sobre o paisagismo, a atividade que o tornou mais conhecido.
“O tio Roberto tinha um lado de artista plástico que interagia com o de paisagista. Ele explorava as cores e as formas em seus jardins de modo que eles pareciam pinturas”, conta Paula Browne. Burle Marx cursou a faculdade de Belas-Artes, onde conviveu com grandes artistas, como a pintora Tarsila do Amaral, o compositor Heitor Villa-Lobos e o poeta Mário de Andrade.
Do Brasil para o mundo
Não demorou para que os trabalhos de Burle Marx ultrapassassem as fronteiras brasileiras. O paisagista tem trabalhos espalhados por diversos países e usou o seu sucesso internacional para defender o meio ambiente. “Ele usava os meios de comunicação para lutar contra a destruição da natureza”, conta Paula. A escritora lembra que, em seus próprios jardins, Burle Marx também se preocupava em preservar a mata dos arredores e as espécies nativas que usava.
“Roberto Burle Marx nos ensina a ter um olhar mais poético, capaz de se maravilhar com a vida e a transformar o mundo em beleza”, conta Paula Browne. Então, abra bem os olhos para apreciar a obra desse artista, seja ao vivo, pela internet, em livros ou revistas!