Rob de Góes, na verdade, se chama Roberto Muylaert Tinoco. É carioca, do bairro de Laranjeiras. Mas, ainda criança, foi morar em São Paulo, onde buscou inspiração para escrever o seu mais recente livro! Interessado por insetos desde cedo, Rob de Góes era conhecido em seu bairro, quando menino, porque vivia procurando esses bichos. Mais tarde, já adulto, continuou interessado pela natureza. Tanto que, depois de se formar em agrimensura – um dos ramos da engenharia que ensina como medir os solos –, se especializou em biologia e trabalhou no Instituto Butantã, em São Paulo. Como escritor, já publicou livros para jovens e crianças, sempre misturando ciência e aventura. Nesse bate-papo animado que teve com a CHC On-line , ele conta um pouco mais sobre a sua vida e obra.
Você usou o nome “Rob de Góes” para escrever o livro. Por que adotou esse nome?
Resolvi adotar o Rob porque já fazia parte do meu primeiro nome, Roberto. O Góes – como é escrito no Brasil – foi para resgatar o nome de um antepassado de meu avô paterno, o Capitão Pero de Góis, que recebeu do rei a Capitania de São Tomé, uma região onde hoje se encontra o município de Campos dos Goitacazes, no Rio de Janeiro. Mas essa decisão não teve nada a ver com o culto a antepassados ilustres ou coisas desse tipo. Faço parte de um grande coquetel genético. Tenho ancestrais belgas, índios goitacás, espanhóis e até romenos. E a lista de misturas não pára por aí.
Por que você compara o mundo real dos insetos com o dos duendes, personagens de ficção?
Uma das principais intenções do livro é a de demonstrar as incríveis semelhanças entre esses dois mundos: o dos seres fantásticos e o dos seres que costumamos chamar de naturais. Pode parecer absurdo, mas muitas das qualidades atribuídas aos duendes podem ser observadas em fenômenos – ainda pouco divulgados – que ocorrem no mundo dos insetos. Logo no início, eu apresento nada menos do que dez características compartilhadas por eles. Tenho certeza de que todos irão aceitar as comparações e se divertir com a aproximação que eu faço entre fantasia e realidade. Além de descobrir que coisas muito mais difíceis de acreditar estão acontecendo diariamente à sua volta.
Quando criança, além de caçar insetos, o que você mais gostava de fazer?
O meu mundo de criança foi povoado por fantasias sobre animais e plantas, que inspiraram meus desenhos e brincadeiras. Gostava de passear de bicicleta debaixo de chuva forte; andar pelos telhados das casas; subir em árvores; pegar jacaré nas ondas do mar (ainda não se praticava o surfe); caçar rãs para minha avó preparar para o jantar; jogar futebol, pingue-pongue e queimada; perseguir balões de São João; ler sobre viagens e procurar lugares pouco conhecidos nos mapas; desenhar; pintar; fabricar espadas, arcos e flechas e, até mesmo, armaduras (para brincar de cavaleiro medieval); desmontar brinquedos e aparelhos quebrados para ver como eram feitos. Dá para perceber que eu não parava quieto, não é?
Apesar de conter aventuras parecidas com as dos livros de ficção, seu livro trata da realidade e da sua história com a ciência. Você acha que existe alguma aproximação entre ciência e magia?
Na ciência, a experiência proporcionada por uma descoberta ou pela compreensão de um fenômeno pode, sem dúvida, ser encarada como um momento mágico, por causa da emoção que nos causa. Em muitas passagens do livro, tento mostrar que os fenômenos biológicos escondem o mesmo charme daquelas deliciosas mágicas mostradas nos filmes do Harry Potter ou do Senhor dos Anéis . É exatamente esse mundo mágico, de interpretações infantis, que eu procuro compartilhar com os leitores no livro Os duendes de seis patas e a cidade mutante.
O que você tem a dizer para os pequenos leitores que estão descobrindo a ciência e os caminhos da pesquisa?
Que percorram, passo a passo, o rumo que escolherem, mas que não se esqueçam de dar algumas paradinhas para dançar. Que ouçam atentamente as aulas, mas que depois escutem música. Que sejam bem-sucedidos em suas provas escritas e orais, mas que depois desenhem, pintem e cantem. Que se maravilhem com as infinitas formas que surgem na natureza, mas que sejam capazes de inventar os mais imprevistos modelos. Que compreendam a ciência, mas que saibam admirar a sua poesia. Eu confio mais no futuro do ser humano quando vejo arte e ciência caminhando de mãos dadas. Acho que, no fundo, as duas não devem viver separadas. Para isso, utilizo tudo que aprendi como autor de livros paradidáticos, como divulgador científico, como pesquisador dos hábitos de insetos e de cobras, como redator, como ilustrador e como fotógrafo da vida selvagem.