Em 1952, o escritor Guimarães Rosa participou de uma aventura no sertão de Minas Gerais que marcaria para sempre sua vida. Ele percorreu 240 quilômetros a cavalo, junto a uma comitiva de vaqueiros que conduzia cerca de 200 cabeças de gado. Durante os dez dias dessa viagem, Rosa vivenciou experiências únicas. Comeu com os vaqueiros, dormiu em acampamentos improvisados, ouviu histórias e se encantou com as paisagens do sertão. De tão marcante, essa viagem influenciou toda a obra do autor, inclusive seu livro mais famoso, chamado Grande Sertão: Veredas.
Décadas mais tarde, para evitar que as paisagens do cerrado descritas por Guimarães Rosa fossem destruídas pelo crescimento desordenado das fazendas, foi criado o Parque Nacional Grande Sertão Veredas. Localizado na divisa entre o noroeste de Minas Gerais e o sudoeste da Bahia, o parque é o maior do país com predominância de cerrado. Mas que paisagem tão especial é essa, que serviu de cenário às aventuras de Riobaldo Tatarana – personagem principal do livro de Rosa?
Trata-se dos “Gerais”, uma grande extensão de terras suavemente onduladas e cobertas por vegetação típica de savana, com campos gramados e bosques de árvores baixas e retorcidas. E o que dá um toque especial à paisagem dessa região são as veredas, verdadeiros oásis do cerrado.
As veredas se formam nas áreas mais baixas, onde uma vegetação própria, marcada principalmente pela presença de uma palmeira chamada buriti, cresce junto a uma nascente ou um pequeno córrego. Além de sua importância em abrigar espécies típicas da flora, as veredas funcionam também como pontos de encontro da fauna. É ali que muitos animais vão para matar a sede, se alimentar e até se reproduzir, como é o caso de muitas espécies de anfíbios e aves aquáticas.
O Parque Nacional Grande Sertão Veredas se destaca por ser refúgio de um grande número de espécies animais raras e em risco de extinção. Cruzando os céus do parque podem ser vistos urubus-reis, araras-vermelhas, araras-canindé e bandos de papagaios-galegos. Nos riachos, podem ser encontrados cervos-do-pantanal, antas, jacarés-coroa e até cobras sucuris. Em seus campos de capim quem desfila são emas, lobos-guarás e tamanduás-bandeiras. E não se espante se, ao caminhar pelas trilhas do parque, se deparar com os enormes buracos cavados pelo tatu-canastra ou com as pegadas gigantes de onças-pardas e pintadas.
Não apenas essas riquezas, mas também as lendas populares, o sabor dos frutos do cerrado (gabiroba, pequi, araçá, araticum, cajuí, baru, cagaita etc.), o jeito simples do povo sertanejo e sua estreita relação com a natureza fizeram Guimarães Rosa se apaixonar pelo sertão. Felizmente, graças a ele, hoje temos parte importante do cerrado preservada em suas histórias e no Parque Nacional Grande Sertão Veredas.