O mar que virou cerrado

Quem viaja ao nordeste brasileiro hoje acha difícil acreditar que ele já foi muito frio e que esteve, na pré-história, coberto de gelo e água. Nesse passado tão diferente, quais eram os habitantes daquela região? Essa pergunta está na cabeça do grupo de cientistas brasileiros e estrangeiros à frente da expedição Piauí-Maranhão, que tem como objetivo desvendar o Brasil de 270 milhões de anos atrás, durante o período conhecido como Permiano.

Nos mais de 5.500 quilômetros percorridos pela expedição, o principal meio de transporte era o carro, mas alguns trechos só podiam ser percorridos em barcos (Foto: UFPI)

Nos mais de 5.500 quilômetros percorridos pela expedição, o principal meio de transporte era o carro, mas alguns trechos só podiam ser percorridos em barcos (Foto: UFPI)

Há muitos motivos para que os cientistas se interessem por este período. Foi durante o Permiano, por exemplo, que aconteceu a maior extinção em massa de que se tem notícia – quase 90% das espécies de seres vivos desapareceram. Naquela época também se formou a Pangeia, uma enorme massa de terra que unia todos os continentes que conhecemos hoje.

Os cientistas sabem ainda que, durante o Permiano, a Terra passou por grandes transformações climáticas. No princípio o clima era muito frio – o planeta passava por uma Era Glacial –, mas foi ficando mais quente e seco aos poucos. Após a formação da Pangeia, no continente eram raros os rios e lagos.

Naquela época, anterior aos dinossauros, os répteis não eram numerosos e os mamíferos ainda nem existiam. Por isso, a Terra era dominada principalmente por anfíbios de espécies muito variadas: grandes, pequenos, de água doce ou até marinhos – coisa que não vemos nos dias de hoje. Esses animais viviam em regiões próximas ao litoral, onde a umidade era maior.

Muitos fósseis do Permiano já foram encontrados na Rússia e na África do Sul, mas há poucos registros brasileiros. É justamente isso que a expedição Piauí-Maranhão está tentando mudar.

Para extrair alguns fósseis, os cientistas tiveram que usar um trator. A rocha na qual eles estavam era muito dura para ser quebrada por martelos (Foto: UFPI)

Para extrair alguns fósseis, os cientistas tiveram que usar um trator. A rocha na qual eles estavam era muito dura para ser quebrada por martelos (Foto: UFPI)

Em três viagens realizadas entre 2011 e 2013, os cientistas coletaram cerca de 500 fósseis. “A maioria são dentes, espinhos, ossos de peixes e anfíbios, além de fósseis de fezes, chamados de coprólitos”, conta o paleontólogo Juan Carlos Cisneros, da Universidade Federal do Piauí, que fez parte da expedição.

Na última viagem, o destaque ficou por conta dos fósseis de tubarões, como o Ctenacanthus maranhensis, espécie parecida com uma enguia. Dele, foram encontrados dentes e alguns espinhos que chegavam a 20 centímetros e estavam presentes nas nadadeiras do bicho.

Descobertas como a do C. maranhensis confirmam o que estudos bem antigos já apontavam: parte do nordeste brasileiro foi, no passado, coberta de água. Com o passar do tempo e o movimento de separação dos continentes, a região foi mudando até se tornar o que é hoje.

Ficou com gostinho de quero mais? Confira algumas imagens dos fósseis encontrados durante a expedição Piauí-Maranhão:

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Matéria publicada em 03.07.2013

COMENTÁRIOS

  • Anna Elise

    Provavelmente vão ser encontrados mais fósseis!Tomara.

    Publicado em 28 de julho de 2018 Responder

  • Espedito Siqueira dos Santos

    Sempre que passo pelo agreste/ sertão Lajedo PE e já estive na zona de plantio de mandioca e melancia, vendo a terra não tenho dúvidas que se trata de um local que antigamente foi um mar, areia e tipo de solo. também perto de Bom Conselho-PE além do Vale do Paraíba que se estende a partir de Boca da Mata-PE Châ Preta -AL. nada pode negar que as áreas já foram alagadas antigamente. Precisamos explorar mais sobre este ponto de Vista. Muito obrigado pela contribuição.

    Publicado em 23 de fevereiro de 2021 Responder

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Fernanda Turino

Sempre fui muito curiosa, adorava brincadeiras ao ar livre e acampar (fui até escoteira!). Cresci lendo a CHC e hoje trabalho aqui.

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