O pavão queixando-se a Juno

Certa vez, o pavão foi falar a Juno — na mitologia romana, ela é a esposa de Júpiter e deusa da fecundidade, das mulheres, do casamento. Muito nervoso, o bicho começou a reclamar:

— Ó deusa celeste, eu protesto contra você pela péssima voz que me deu! Sou sua ave e, como quero te elogiar bem alto, causo um estrondo nos campos em torno daqui com meus sons barulhentos! O rouxinol, que é tão mesquinho, tem uma voz encantadora. A primavera tem sorte de poder ouvi-lo cantar. O mundo se encanta com aquele infeliz!

Juno ficou irada, com muita raiva, e disse:

— Cale a boca, seu estúpido invejoso! Por que você deseja a voz do rouxinol sonoroso? Você tem ricas pedras ornadas em sua cauda, brilhantes listras em seu pescoço. Nunca vi uma ave que se pareça tão bem como você quando está a passear! Ninguém nunca poderá reunir todos as qualidades que quiser. A rendosa natureza dividiu seus dons com todos: deu coragem às águias, ligeireza aos falcões. Por sinal, o corvo grasna, a coruja — nas mortes — pia, a gralha (uma ave vermelha encontrada na Europa) pressente coisas ruins que estão para acontecer. Todos eles se contentam com o que são. E se você voltar a se queixar comigo, lhe darei voz de Filomena, mas hei de tirar as plumas que lhe dei!

Conclusão: o invejoso pavão não quis a troca. Porque é do nosso instinto invejarmos sempre o que os outros possuem, mas sem querer largar o que é nosso…