Para saber mais

A Escola de Sagres

No ponto mais a oeste de Portugal, dezenas de especialistas em navegação viveram e trabalharam juntos durante boa parte do século 15. Lá, em um cidade chamada Sagres, cosmógrafos, construtores de barcos, capitães, pilotos e marinheiros ajudaram Portugal a realizar avanços tecnológicos na área da navegação. O astrolábio – instrumento de origem árabe que ajudava os navegantes a se guiarem pelas estrelas – foi aperfeiçoado, novas técnicas para construção de barcos foram inventadas, mapas de ilhas e da costa africana foram redesenhados etc. Todo esse esforço conjunto ficou conhecido como a Escola de Sagres. Apesar de não se tratar exatamente de uma escola construída com professores dando aulas, a reunião de todas essas pessoas em Sagres – por iniciativa do Infante D. Henrique, que sonhava em ver Portugal aumentar seu domínio pelo mundo – ficou conhecida assim. De fato, ela foi um dos principais fatores que fez de Portugal uma potência marítima nos séculos 15 e 16.

O Tratado de Tordesilhas

Na época das navegações, Portugal e Espanha eram reinos tão poderosos que dividiram o mundo entre eles. Eles fizeram isso assinando um acordo em 1494, conhecido como Tratado de Tordesilhas.

Tudo começou com uma desavença entre os dois reinos que queriam controlar as rotas marítimas do oceano Atlântico. A rivalidade chegou a provocar batalhas entre seus navios na década de 1470. O papa conseguiu acalmar os governantes, que assinaram um tratado de paz na cidade de Toledo em 1480.

No entanto, os ânimos se acirram de novo em 1493, quando Cristóvão Colombo anunciou que tinha conseguido chegar às Índias por um novo caminho (hoje sabemos que na verdade ele tinha descoberto a América!).

Depois disso, novas negociações começaram. O papa Alexandre VI propôs que Portugal e Espanha dividissem o mundo seguindo uma linha imaginária (meridiano): o que ficasse a oeste seria da Espanha, e Portugal teria o que ficasse a leste. Esse meridiano ficava a 370 léguas a oeste do arquipélago de Cabo Verde. O acordo foi assinado em 7 de julho de 1494, na cidade espanhola de Tordesilhas.

Portugal garantiu o domínio que tinha sobre a África e sobre o Cabo da Boa Esperança. Também garantiu terras que só seriam descobertas seis anos depois, por Pedro Álvares Cabral – que hoje fazem parte do Brasil!


Naus e Caravelas
    

As naus e as caravelas foram as embarcações mais usadas durante os primeiros dois séculos dos descobrimentos. Construídas em madeira, as caravelas não tinham mais que 20 metros de comprimento por cinco metros de largura. As naus eram um pouco maiores, mais ou menos uns 35 metros de comprimento por oito metros de largura. Essas embarcações não ofereciam conforto, nem segurança. Mas eram o que havia de mais moderno na época.

Suas estruturas internas eram muito semelhantes. Havia três andares: um convés, onde os marinheiros passavam a maior parte do tempo; um porão, onde ficavam velas e mastros sobressalentes, além de outras cargas; e, em um nível mais abaixo, o lastro – uma massa feita de pedras e areia que dava equilíbrio à embarcação.


As caravelas foram um grande avanço na época, porque tinham panos latinos, que eram velas triangulares. A combinação de três panos latinos, fixados em três mastros, possibilitava navegar à bolina, ou seja, com os ventos soprando na direção contrária a que se desejava.

As naus, muito eficientes em batalhas, eram navios um pouco maiores, com grande capacidade de carga. No final do século XV e início do XVI, eram capazes de transportar cerca de 400 toneladas. Tinham quatro mastros, combinando panos latinos e velas em forma de quadrado, chamadas de panos redondos.

Por usarem velas quadradas, as naus eram mais perigosas. Ainda que se conseguisse, com muita dificuldade, navegar em ziguezague contra o vento, essas embarcações geralmente viravam e afundavam. Para descrever essas situações, os portugueses costumavam usar a expressão “comeu-lhe o mar”.


As especiarias
As famosas especiarias eram, principalmente, o que conhecemos como tempero: canela, cravo, pimenta, noz-moscada… Hoje, esses produtos podem ser comprados em qualquer mercado, mas na época das grandes navegações eram muito caros e difíceis de serem encontrados.

Naquele tempo, em que não havia geladeira, as especiarias ajudavam a conservar os alimentos. Cá entre nós, elas também eram usadas para disfarçar o gosto de alguma comida que já estivesse meio velha. Tempos difíceis, aqueles!

A disputa pelo lucrativo comércio de especiarias foi um dos motivos das navegações. Portugal e Espanha tentavam encontrar uma rota que os levasse diretamente ao extremo oriente, onde as especiarias eram produzidas. Eles queriam evitar os árabes e os italianos, que dominavam o comércio desses produtos no mar Mediterrâneo.

Um nó no descobrimento

Qualquer brasileiro quando perguntado sobre a data do descobrimento do Brasil responderia sem titubear: 22 de abril de 1500. Mas vamos pensar. Quando Pedro Álvares Cabral chegou aqui vigorava o calendário juliano, que considerava o ano com 365 dias e 6 horas. Em 1582, os cálculos dos cientistas mostraram que o ano era alguns minutos e segundos mais curto do que se pensava.

Na época os astrônomos e matemáticos chegaram à conclusão que essa aparente pequena diferença fazia com que o calendário estivesse atrasado em 10 dias. Quando o papa Gregório XIII ordenou que o calendário fosse modificado, esse atraso foi descontado, passando-se direto do dia 4 de outubro de 1582 ao dia 15 de outubro de 1582.

Assim, se esse atraso no calendário fosse descontado na época do descobrimento, e se a supressão de 10 dias fosse feita naquele ano, os portugueses não teriam aportado em nosso país no dia 22 de abril e sim em 2 de maio de 1500.