A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, mas, infelizmente, quase 20% de sua área já foram desmatados, principalmente para a criação de pastagens e lavouras. Apenas no período de agosto de 2014 a fevereiro de 2015, foram destruídos 1.700 quilômetros quadrados de floresta, área equivalente a 206 campos do Maracanã. E não são apenas as plantas que saem perdendo. Muitos animais perdem seu hábitat ou sua fonte de alimento, e isso traz impactos importantes para a fauna local.
Uma consequência surpreendente do desmatamento na Amazônia é a diminuição do tamanho dos peixes que vivem nos rios da região. Um estudo feito em riachos das cabeceiras do Rio Xingu observou esse efeito em áreas utilizadas para a agricultura.
Os pesquisadores se surpreenderam com a diferença de tamanho entre os peixes coletados em áreas preservadas (florestas) e os achados em áreas agrícolas. Então, imaginaram que essa diferença poderia ter relação com a temperatura da água, que é mais quente nas regiões usadas para a agricultura.
Para testar o efeito do aumento da temperatura no tamanho dos peixes, os pesquisadores fizeram um experimento em laboratório. Eles criaram peixes nativos da região em aquários com diferentes temperaturas. Um conjunto de aquários foi mantido numa temperatura semelhante à das florestas, 24ºC, e o outro, aquecido até 32ºC, que é uma temperatura comum em riachos de áreas agrícolas.
“Os espécimes criados num ambiente mais quente tiveram tamanho reduzido. Já os colocados em temperatura de floresta apresentaram crescimento normal”, explica o ecólogo Paulo Ilha, da Universidade de São Paulo, que coordenou o estudo. “É possível que o aumento da temperatura cause redução de tamanho em diversas espécies de peixes, inclusive espécies utilizadas pelo homem como alimento”.
O estudo também investigou outras alterações no ambiente e na fauna de peixes causadas pela transformação de florestas em áreas agrícolas. Por exemplo, os pesquisadores viram que barragens construídas em riachos de área agrícola prejudicaram várias espécies. “Alguns peixes que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontrados em trechos represados”, alerta Paulo.