Penas, peles, pêlos, escamas e outros revestimentos

Quando a gente olha para um bicho, a primeira coisa que notamos e julgamos é a sua aparência externa, como formas, cores… Daí, surgem as expressões: que bonito esse passarinho ou que coisa feia é essa barata ou quantas cores têm aquela lagarta! Neste momento, estamos comentando o revestimento externo dos animais. Mas será que sabemos para que ele serve?

Vamos pensar em revestimento, levando em conta desde o mais simples dos animais, passando pelos invertebrados até chegar às aves e aos mamíferos. Começando nossa observação pelos seres unicelulares — aqueles que são formados por uma única célula — veremos que mesmo entre esses organismos muito simples existem diferenças em seus revestimentos, seja porque eles habitam lugares diferentes ou porque têm funções diferentes.

Por exemplo: analisando ao microscópio uma ameba, microrganismo que vive em ambientes aquáticos, percebemos que seu revestimento é apenas uma fina membrana celular, que envolve o citoplasma e o núcleo. Seu corpo é simples desse jeito porque a ameba não precisa de grande esforço para sobreviver. Sua própria parede celular envolve o alimento de que ela necessita. E, para se locomover, ela simplesmente vai se esparramando. Que vida mole!

No caso do paramecium, outro animal unicelular, o corpo é revestido de muitos cílios que batem insistentemente e impulsionam seu corpo. Por que ele precisa desses cílios? Porque a vida dele não é tão mole como a da ameba. O paramecium é um predador, ou seja, precisa de agilidade para se locomover e capturar outros seres microscópicos que são seu alimento.

Fora esses, existem outros tipos de revestimento desenvolvidos pelos microrganismos para se adaptarem ao ambiente em que vivem e à vida que levam. Você pode não saber, mas, na praia, existem milhões, bilhões de seres microscópicos. São os foraminíferos — o nome vem do latim ( foramen ) e indica que eles têm inúmeros orifícios. Para viverem entre os grãos de areia, os foraminíferos apresentam uma carapaça resistente, geralmente feita de calcário, com formas muito variadas, mas sempre repleta de furos invisíveis a olho nu.

Vamos passar agora dessas criaturas simples a criaturas mais complexas, formadas por um conjunto de células que trabalham harmoniosamente. Em muitos invertebrados habitantes da água ou de ambientes úmidos e terrestres — como as águas-vivas e as lesmas –, a cobertura do corpo é formada por uma camada de células chamada epiderme, que tem abaixo dela uma outra camada chamada endoderme.

No caso das esponjas, que só apresentam epiderme, a água, que para elas é cheia de nutrientes, simplesmente passa pelos poros de seu corpo, também chamados de inalantes, e circula pelo organismo. Pode parecer muito fácil viver sem se mexer nem um pouquinho. Mas ficar assim parado pode facilitar o ataque de um predador ou significar risco de vida quando o mar fica agitado e as ondas batem violentamente. Logo, um animal com esse tipo de vida precisa ter seu corpo reforçado. Por isso, as esponjas têm espículas, estruturas que se parecem com pequenas agulhas ou bastõezinhos, servindo para protegê-las e, ao mesmo tempo, sustentar o corpo.

Agora, tente se lembrar das rochas à beira-mar e de pequenos crustáceos que vivem agarrados nelas, as chamadas cracas. Quem gosta de andar nessas pedras, já deve ter tido os pés ou as mãos cortadas. O revestimento deles é tipo uma armadura calcária com a forma de um vulcão, constituída de quatro a oito placas grudadas entre si. Dentro da cavidade formada por essa muralha é que se aloja o animal, preso no fundo por um disco de fixação.

Nas mesmas pedras das cracas também vemos as “baratinhas-de-praia”, que muita gente sente nojo por lembrar daquelas que aparecem em nossas casas. A barata-de-praia e todos os demais artrópodes, como lacraias, centopéias, lagostas etc., são revestidos por uma cutícula (a casca da barata é um exemplo de cutícula) e, geralmente, por uma fina camada de cera que impede a perda de líquido pelo corpo. Esse dispositivo, em conjunto com outras adaptações, permite que alguns crustáceos, insetos e aranhas possam habitar ambientes secos.

Quem é que te protege?
Nos vertebrados, o revestimento do corpo é uma pele, também chamada de tegumento, composta de duas camadas: uma mais interna, a derme, e outra mais externa, a epiderme. Nos peixes, a epiderme é fina e contém muitas glândulas produtoras do muco que lubrifica a superfície recoberta por escamas. Por isso, quando pegamos um peixe, ele escorrega, daí a expressão “peixe ensaboado”! Já os tubarões e as raias têm escamas cobertas de esmalte, fazendo com que o revestimento deles seja mais grosso. Quando for a uma peixaria, passe a mão em um cação — é uma verdadeira lixa fina que ajuda a proteger o corpo.

Quando surgiram os anfíbios e répteis, a epiderme tornou-se mais dura e resistente, o que impede a perda de água e os ajuda a viver em ambientes mais secos. A pele dos répteis, como cobras e lagartos, também contém escamas que contribuem para maior proteção física, já que eles vivem se arrastando. Um dado curioso é que esses animais necessitam mudar a pele periodicamente para permitir o crescimento do corpo.

Nas aves, todos nós sabemos que o revestimento são as penas. Elas têm a função de isolar a temperatura do corpo e aumentar a superfície corporal sem ganho de peso, por isso elas conseguem voar. Na maioria desses animais, a plumagem colorida dos machos tem também outra utilidade: chamar a atenção das fêmeas para o acasalamento.

Grande parte dos mamíferos tem a pele coberta de pêlos que servem para isolamento térmico. Talvez seja melhor explicar o que é isso. Então, veja só: na epiderme desses animais, encontramos as glândulas sudoríparas, que eliminam suor, ajudando no resfriamento do corpo, e também as glândulas sebáceas, que secretam gordura para evitar a evaporação d’água, mantendo o animal aquecido e os pêlos de seu corpo maleáveis. Esse equilíbrio entre as glândulas sudoríparas e as sebáceas é que permite aos mamíferos manter a temperatura do corpo constante, mesmo quando a temperatura do ambiente varia.

Em mamíferos aquáticos, como focas, baleias e golfinhos — que necessitam suportar a água fria –, há sob a pele uma espessa reserva de gordura que evita a perda de calor e os ajuda a boiar e a nadar. É por conta dessa reserva que as baleias e as focas são tão gorduchas.

Por estar exposta a machucados, a epiderme dos animais é constantemente renovada. Essa troca, também conhecida como muda, ocorre de diferentes maneiras. No caso das penas e dos pêlos, periodicamente eles caem e são substituídos por novos. Já as cobras e alguns lagartos, como vimos anteriormente, trocam toda a epiderme em curtos espaços de tempo. Nos seres humanos, também ocorre a troca de pêlos. Ela passa despercebida porque quando uns pêlos estão caindo, outros já estão nascendo. Há ainda uma gradual substituição das células da epiderme — o próprio banho ajuda a eliminar as células mortas.

Depois de descobrir que o revestimento externo dos animais tem a função de proteger o corpo de machucados, contra organismos causadores de doenças, evitar o ataque de predadores e ainda de atuar no isolamento térmico, na reserva de água, na sustentação, na locomoção e até na atração do sexo oposto, você já deve estar preparado para entender a evolução desses revestimentos.

Lembra-se da ameba do início do texto, aquela com poucos movimentos e restrita a ambientes aquáticos? Compare o revestimento dela com o de um mamífero. Essas enormes diferenças são resultado da evolução. Ou seja, o revestimento foi sendo adaptado às novas necessidades dos grupos de animais que foram surgindo e isso permitiu que diversos ambientes fossem ocupados com sucesso. Evolução é um assunto incrível, mas os detalhes nós vamos deixar para uma próxima conversa!