Quem veio primeiro: o cinema ou a pipoca quentinha para acompanhar? Tudo indica que, enquanto o cinema foi inventado somente no século 19, a guloseima já fazia parte do nosso cardápio há milhares de anos. Pesquisadores encontraram, no norte do Peru, grãos de pipoca que datam de cerca de 6700 anos.
A descoberta foi resultado de uma escavação feita nos sítios arqueológicos de Huaca Prieta e Paredones. Para descobrir a “idade” da pipoca, os cientistas usaram um método chamado de datação por carbono 14, que compara a quantidade de carbono presente no milho encontrado nas escavações e na atmosfera.
Isso é possível porque o carbono 14 é absorvido pelas plantas durante a fotossíntese na forma de gás carbônico. Assim, a quantidade de carbono 14 na planta viva é igual à quantidade de carbono 14 presente na atmosfera. Porém, quando a planta morre, ela para de absorver o gás carbônico e, por isso, a quantidade de carbono 14 presente em suas células começa a diminuir. Para saber a idade do grão de milho, basta comparar a quantidade de carbono 14 no milho e na atmosfera – quanto menor a quantidade de carbono, mais antigo o milho é.
Nas escavações, os antropólogos encontraram também restos de espigas e de palha de milho consumidos pelas civilizações antigas que habitavam o Peru em um período conhecido como pré-cerâmico – ou seja, anterior ao uso da cerâmica na fabricação de potes para manusear e armazenar os alimentos. “É uma descoberta importante porque acreditava-se que as civilizações precisavam dos recipientes de cerâmica para comer o milho”, explica Dolores Piperno, curadora do Museu Smithsonian de Nova York e líder da equipe que fez o estudo. Agora, já se sabe que o milho chegou à cultura peruana antes da cerâmica.
Mas nem só de pipoca viviam esses povos. Na verdade, o consumo dessa guloseima era muito restrito. “As espigas de milho eram pequenas e menos calóricas e nutritivas do que são hoje”, explica Dolores. Por isso, eles davam prioridade a outros alimentos, como peixes, grãos de feijão e pimentões.