Pergunta: você sabe o que tem dentro do seu corpo? Aposto que você já começou a fazer uma lista de órgãos: coração, cérebro, estômago, fígado, intestino, pulmão… E dentro do corpo do seu cachorro, o que será que tem?
“Todos os mamíferos são parecidos por dentro”, esclarece o biólogo Ignacio Moreno, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Porém, os órgãos podem ter características diferentes de acordo com o tamanho do bicho, o ambiente onde vivem e até com suas preferências alimentares. Veja, por exemplo, o caso do boi: ele se alimenta apenas de plantas e, por isso, tem uma dieta rica em celulose, uma substância difícil de digerir. “Para que a digestão seja completa, o estômago do boi precisa ser dividido em quatro partes”, explica o biólogo.
Outros animais possuem órgãos semelhantes aos nossos, mas que se adaptam de acordo com as necessidades do bicho. Segundo Ignacio, existem aves que, por conta da alimentação, mudam o tamanho de seu intestino de acordo com a estação do ano. “No verão, essas aves comem insetos fáceis de digerir, então o intestino mantém o tamanho normal. Já no inverno, elas se alimentam de sementes e o intestino aumenta para facilitar a digestão”, explica.
Algumas espécies têm órgãos muito específicos para se adaptar a ambientes e estilos de vida. É o caso das baleias rorquais, que possuem um órgão responsável por avisar ao cérebro do animal quando sua boca já está cheia de comida. Para se alimentar, essas baleias abrem bem a boca e engolem um montão de água, filtrando peixes e plâncton. Localizado entre as mandíbulas, o órgão avisa para a baleia se ela deve ou não abrir mais a boca para se alimentar.
Existem, ainda, animais que substituem um órgão pelo outro. É o caso do sapo Barbourula kalimantanensis, que vive na Indonésia e não tem pulmões. “Muitos anfíbios fazem troca gasosa pela pele, mas continuam usando os pulmões. No entanto, como a água em que esse sapo vive tem muito oxigênio, ele faz todas as trocas gasosas pela pele e não precisa de pulmões”, diz Ignacio.
Outros animais podem ser ainda mais diferentes dos seres humanos. O corpo da água-viva, por exemplo, não é composto por órgãos como estômago, coração e pulmões. Nela, apenas uma parte do corpo fica responsável por cumprir as funções dos três órgãos. “A água-viva possui uma única cavidade que é responsável pela digestão, pela circulação e pelas trocas gasosas”, conta Ignácio biólogo.
Há também bichos com mais órgãos do que nós. Segundo a bióloga Helena Romanowski, também da UFRGS, as minhocas possuem cinco corações. “As minhocas possuem um vaso sanguíneo ao longo das costas e outro ao longo da barriga e, por causa de seu comprimento, precisam de cinco ‘corações’ para impulsionar o sangue por todo corpo”, conta a especialista. “Esses ‘corações’, porém, são bem diferentes do nosso: são, na verdade, vasos que se contraem”. Dependendo do comprimento do corpo, alguns anelídeos podem ter até 15 corações!
Quando o assunto é inseto, Helena conta que a anatomia desses bichos é ainda mais diferente. “Os órgãos dos sentidos dos insetos são muito diferentes dos nossos”, explica Helena. “Muitos ouvem por uma membrana que fica nos lados da barriga, sentem cheiros pelas antenas e gosto pelas patas. E são muito eficientes: por exemplo, há borboletas cujos pés são cerca de 200 vezes mais sensíveis à presença de açúcar do que a língua humana!” Curioso, não é?
De bicho pra gente
Apesar de tanta diferença, a ciência já estuda a possibilidade de implantar órgãos de animais em humanos. Segundo Flávio Galvão, cirurgião da Universidade de São Paulo, diversas tentativas foram feitas na década de 60, quando o transplante de órgãos entre humanos ainda não era comum. No entanto, o corpo humano acabava rejeitando órgãos de outros animais e quem os recebia não vivia muito tempo.Por ser muito parecido conosco, o chimpanzé seria o primeiro animal candidato a doador caso o transplante de órgãos entre animais e humanos fosse possível. No entanto, Flávio destaca um animal bem inusitado para assumir a posição: o porco. “Os órgãos do porco possuem funções e formas parecidas com as dos órgãos humanos e, se o transplante fosse possível, eles seriam ótimos doadores”, explica.