Já imaginou como seria receber um presente de milhões de anos? Paleontólogos, de vez em quando, passam por isso. E hoje relatamos mais um caso: há alguns meses, um visitante anônimo entregou dois exemplares de ovos pré-históricos na sede do Departamento Nacional de Produção Mineral, em Belo Horizonte (MG).
Em outubro, os ovos foram levados para o Complexo Cultural e Científico de Peirópolis, bairro de Uberaba (MG) onde já foram encontrados importantes registros fósseis brasileiros. Por enquanto, pesquisadores da Universidade Federal do Triângulo Mineiro fizeram apenas análises superficiais, já que não houve tempo para exames aprofundados.
“Podemos garantir que são ovos de dinossauros. A pessoa que fez a entrega disse que o material foi retirado de pedreiras de calcário do bairro de Ponte Alta (a cerca de 15 km de Peirópolis), o que bate com o contexto e a morfologia dos fósseis que a gente estuda na região”, explica o geólogo Luiz Carlos Borges Ribeiro.
Os ovos têm pouco menos de 15 centímetros de diâmetro – são bem maiores que um ovo de galinha e menores que um ovo de avestruz. Pela aparência, os pesquisadores acreditam que há uma boa possibilidade de que eles sejam de titanossauros. Esses dinossauros herbívoros podiam chegar a 15 metros de altura e teriam vivido na região no fim do último período do Cretáceo, entre 64 e 72 milhões de anos atrás.
“Eles são muito semelhantes a um ovo identificado na região em 1999 e atribuído a um titanossauro. Como aquele ovo está muito amassado, não podemos afirmar com certeza, mas há 90% de chances”, conta Luiz Carlos.
Em busca de embriões
Além do bom estado de conservação dos ovos, os cientistas estão animados com a possibilidade de encontrar embriões, já que aparentemente eles não eclodiram. “Se encontrarmos, faremos o primeiro estudo com embriões fossilizados do país”, torce Ribeiro.
A descoberta permitiria estudos não apenas sobre o grupo de dinossauros que teria colocado estes ovos, mas sobre as relações desses animais com o ambiente que os cercava há cerca de 70 milhões de anos. “A estrutura delicada da casca e muitas vezes o próprio processo de eclosão fazem com que a existência de ovos completos seja um caso raro no registro paleontológico”, conta o geólogo Ismar Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Bola ou ovo de dinossauro?
A entrega misteriosa dos ovos pré-históricos é mais um exemplo de que a sorte pode dar uma mãozinha para a ciência de vez em quando. O primeiro ovo fossilizado encontrado no Brasil, em 1945, era usado como uma bola improvisada por operários de uma ferrovia perto de Uberaba! Sorte que paleontólogos em visita à região perceberam que havia um bem precioso no meio da brincadeira.
Para Ismar Carvalho, é bem possível que muitos tesouros fósseis ainda sejam encontrados no Brasil. “Temos uma ampla área de rochas sedimentares, nas quais estão representados pelo menos os últimos 600 milhões de anos de história da vida sobre nosso planeta”, diz o geólogo. Quem sabe você também não pode participar de uma descoberta?