Quintal de índio

Quanta história e ciência existe no seu quintal? Talvez ele tenha milhares de anos de história, e várias pessoas, animais e plantas podem ter passado por lá algum dia – como é o caso de muitas casas estudadas pela bióloga Juliana Lins Góes de Carvalho, que transformou quintais da Amazônia em seu laboratório para desvendar as relações entre as plantas cultivadas atualmente e aquilo que os primeiros habitantes do local deixaram como herança.

Casa e quintal na beira do rio Urubu. A região possui diversas áreas com terras pretas de índio. (foto: Katja Schulz / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0)CC BY-NC 2.0(/a))

Casa e quintal na beira do rio Urubu. A região possui diversas áreas com terras pretas de índio. (foto: Katja Schulz / Flickr / (a href=https://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0)CC BY-NC 2.0(/a))

Ela avaliou casas construídas sobre as chamadas terras pretas de índio, formadas pela ação de grupos humanos que viveram na região há mais de mil anos. Esses solos são ricos em nutrientes como fósforo, cálcio e magnésio, além de um tipo de carvão vegetal muito eficiente em reter nutrientes. Contêm, ainda, vestígios de cultura material, como cerâmicas indígenas que indicam para os cientistas que tipo de população existia ali.

“Os índios, de alguma forma, criaram esses solos. Não sabemos se foi intencional, mas sabemos que eles estão nos locais onde as pessoas moravam e que eles existem por causa do lixo (restos de comida, excrementos etc.) que a comunidade produzia”, conta Juliana. Toda essa matéria orgânica transforma esses territórios em solos muito férteis, excelentes para o plantio.

Quintal sobre sítio arqueológico na região do rio Urubu. (foto: Juliana Lins Góes de Carvalho / Arquivo pessoal)

Quintal sobre sítio arqueológico na região do rio Urubu. (foto: Juliana Lins Góes de Carvalho / Arquivo pessoal)

Depois de visitar 40 quintais na região do rio Urubu, no estado do Amazonas, a bióloga descobriu que o contexto arqueológico – ou seja, as populações antigas que habitaram determinado local – tinham muita influência sobre a composição atual de plantas em um quintal. Grande parte da variedade de espécies presentes atualmente se deve aos antepassados que ali viveram. “As pessoas de hoje dialogam com as pessoas do passado por meio das plantas que brotam nesses quintais”, conclui Juliana.