O número 13 pode significar o azar de muita gente por aí. Mas para aqueles que gostam de uma boa história de assombração, com direito a acordar de madrugada cheio de medo, ele pode trazer muita sorte. Acaba de ser lançado um livro pra lá de bonito, reunindo treze histórias de mitos brasileiros que fazem a nossa imaginação viajar.
Curupira, Saci, Cabra-cabriola, Lobisomem, Boitatá. Essas e outras histórias estão em 13 Lendas brasileiras , nova obra de Mario Bag, publicada pela Editora Paulinas. No livro, o autor faz uma viagem pelo imaginário do povo brasileiro e traz à tona histórias coloridas e encantadas de todas as partes do país.
Mário é ilustrador de várias revistas, capas de discos e autor de outros dois livros. É carioca, mora no Rio e, há dez anos, é colaborador da Ciência Hoje das Crianças , onde começou seu trabalho como criador de desenhos infantis. Escrevemos para você a agradável conversa que tivemos com ele, mas antes, prepare-se, pois…
…Nós falamos de um assunto
Que gela o sangue na veia
Mesmo com a gente assustada
Nossa imaginação não freia…
Como surgiu a idéia de um livro de lendas brasileiras?
Estava lendo uma matéria sobre folclore e imaginei que seria interessante desenhar as figuras descritas no texto. Algumas tinham formas bem definidas, como o Saci-Pererê, mas outras, como a da Cabra-Cabriola e a do Bicho-Papão, podiam ser imaginadas de várias maneiras. Escolhi 13 lendas, em 7 estrofes cada, por causa da magia que gira em torno desses números. Imaginei dois cantadores nordestinos apresentando as histórias e escrevi em forma de literatura de cordel. Para as ilustrações, procurei um traço, uma mistura de xilogravura com pintura naïf . Gostei do resultado e apresentei o projeto para Editora Paulinas, que resolveu publicá-lo.
Você teve que pesquisar muito pra escrevê-lo?
Tive. O mais interessante é que existem várias versões diferentes da mesma lenda. A história da Matinta-Perera, por exemplo, é descrita de muitas maneiras, até como uma variante do Saci-Pererê. As figuras do Curupira e do Caipora às vezes se confundem, dependendo da região em que a lenda é contada. No livro, optei pelo Curupira, pois os pés voltados para trás dão uma imagem bastante estranha. Mesmo sendo um livro para crianças, eu não quis suavizar as lendas que foram criadas para assustar. Algumas são violentas e de arrepiar, como a do Negrinho do Pastoreio e do Lobisomem. Mas, como alguém já disse, as lendas são filhas do medo. Além disso, até os adultos, dirigindo sozinho à noite por uma estrada deserta, podem ter imaginado encontrar alguma assombração, como a Mulher-de-Branco.
Você escreveu outros dois livros. Todos foram feitos para o público infantil?
São dois livros para crianças pequenas: ABC & outros bichos e 1 2 3 & outras coisas. O primeiro apresenta cada letra do alfabeto junto a uma frase em que todas as palavras começam com a mesma letra. Para o A, por exemplo, a frase é ” avestruz andando de automóvel na avenida “. O outro livro tem pequenos versos que apresentam os números. Mas os dois têm várias ilustrações bastante coloridas!
Você também é ilustrador. Qual das duas experiências você acha mais interessante, a de desenhar ou de escrever?
Estou desenvolvendo esse estilo de escrever em versos que rimam. É uma técnica muito interessante, pois tenho que usar poucas palavras para transmitir a idéia que eu imaginei. Penso em uma imagem, faço um esboço com várias frases, vou selecionando o que interessa, corto palavras, inverto a ordem dos versos e escolho uma palavra pra rimar. Utilizo a mesma técnica com os desenhos, mas, às vezes, escrever chega a ser mais interessante que ilustrar. Quando você fica procurando uma única palavra, àquela exata para transmitir a imagem, por exemplo, é quase como procurar o traço certo numa ilustração.
Você pensa em escrever outros livros? Para qual público?
Claro! Mas por enquanto só para o publico infanto-juvenil. Acho que você pode escrever sobre coisas sérias de maneira engraçada, dando valor à inteligência das crianças. Já tenho quatro textos prontos para enviar para as editoras. Todos escritos em rimas.
Na infância, você pensava no que ia ser quando adulto?
Aos dez anos, tocava violão e, junto com um primo, fazia novas versões das músicas da época, mudando as letras. Talvez venha daí a facilidade que tenho em contar histórias em forma de rimas. No início da adolescência queria ser músico de rock. Cheguei a tocar em algumas bandas, mas eu concluí que não tinha talento musical. Como sempre desenhei desde muito pequeno, resolvi seguir a carreira de ilustrador. Mas tentei continuar envolvido com a música fazendo capas de discos. Apenas em 1993 comecei a fazer ilustração infantil, quando fui convidado por Walter Vasconcelos, grande amigo e ilustrador, a desenhar para a revista Ciência Hoje das Crianças.
13 lendas brasileiras
Texto e ilustrações: Mario Bag
São Paulo, Edições Paulinas, 2005
Telefones: (11) 2125-3548, (21) 2232-5489
32 páginas – R$ 18,40