Aviso logo: quem ler a CHC 256, de maio de 2014, terá uma oportunidade rara: espiar o diário de uma princesa de verdade. Juro! Para dar um gostinho aos nossos leitores favoritos, adianto alguns trechos das confidências de Leopoldina – que mais tarde se tornaria esposa de D. Pedro I. Só não vale fazer fofoca da vida íntima da realeza…
Antes de se casar, Leopoldina vivia em Viena junto com seus irmãos. A princesa tinha sua própria governanta, que era também sua professora, além de uma dama de companhia com quem passeava fora do palácio. Nos momentos mais íntimos, o diário era seu grande confidente. Nele, Leopoldina anotava seus medos, suas vontades e até as traquinagens que fazia com os outros!
Viena, Palácio de Hofburg, 1º de dezembro de 1814.
O Congresso de Viena recém começou!
Toda Viena mudou, é o que Annony (dama da honra) diz, e tudo por causa de Napoleão Bonaparte. Maria Luísa está (estava) casada com ele há quatro anos – Maria Luísa, minha irmã bem amada. Algum dia ela vai ter que me contar sobre os seus anos com Napoleão. Ela vivia com Napoleão em Paris!
Palácio de Hofburg, 9 de dezembro de 1814.
Há três dias e duas noites que neva incessantemente. Os coches e as carroças estão presos na neve.
Somente o professor Kotzeluch chegou a tempo para a aula de música. Naturalmente, ele queria espichar meus dedos de novo. Mas até que enfim tomei coragem! “Mestre Kotzeluch, sei que o senhor já espichou os dedos da rainha da França, minha tia Maria Antonieta, até deixá-los em forma para que ela tocasse o cravo. Mas eu não gosto nada disso”, disse eu. O professor ficou tão estupefato que não conseguiu dizer mais nada.
Palácio de Hofburg, 10 de dezembro de 1814.
Às vezes não aguento mais ouvir os sermões de Lazansky (governanta) sobre a disciplina e o cumprimento de dever. Por outro lado, será que Lazansky tem razão? Muitas vezes ela suspira e diz: “Ah, vós pobres princesas! Ou sois negociadas por motivos políticos ou acabais num convento.”
Palácio de Hofburg, 13 de dezembro de 1814.
Hoje é dia de banho. Annony vai outra vez derramar óleo de alecrim na água quente desse banho gostoso! Minhas irmãs bem-amadas, Clementina, Carolina e Aninha, não gostam: “Arre! A gente fica cheirando a coelho assado!”. Se elas não suportam o alecrim como tempero, o que dirá como óleo de banho.
Agora as crianças estão patinando no gelo no parque público à beira do lago. Tenho uma ideia: Talvez eu ponha um pingente de gelo na cama de Clementina, só um, bem pequenininho!
Palácio de Hofburg, 16 de dezembro de 1814 (na Sala Real de Exposições de Mineralogia).
(…) de vez em quando eu não resisto a muitas colheradas de creme cardeal, e por isso meus vestidos ficam apertados demais e as costuras precisam ser abertas – doces são o meu fraco.
A incerteza sobre o meu destino me deixa bastante melancólica. Eu gostaria muito de saber em que canto da Europa se encontra minha futura terra natal.
Palácio de Hofburg, 12 de fevereiro de 1815 (na biblioteca do meu querido pai).
Hoje é dia de lavar a cabeça, os cabelos, e em cada um dos nossos quartos de meninas podemos ver os carregadores de água e as criadas correndo de um lado para o outro com jarras de água e foles, com ferros de frisar o cabelo e rolos de madeira para fazer cachos.
Este ano está muito sem graça. Não tenho nenhum segredo a contar a mim mesma. Ou será que tenho? Na última semana, comi apenas a metade dos doces que costumo comer. Estou ansiosa para ver quando Annony irá apertar as costuras das minhas roupas. Estou à espera desse momento.