Uma descoberta emocionante

Quando Jansen Zuanon analisou pela primeira vez o peixe encontrado em 1997 perto de Manaus, ele ficou surpreso com as características do animal, apelidado de ’peixe misterioso’. Mais ainda porque ele não conseguiu dizer a qual grupo de peixes da Amazônia o bicho pertencia!

Mas a surpresa deu lugar à emoção no ano de 2001. O biólogo estava à procura de uma espécie pequena e, às vezes, difícil de ser encontrada, quando… um outro ’peixe misterioso’ surgiu! “Ao coletá-lo, fiquei eufórico, arrepiado”, conta. Não era para menos: cerca de 20 exemplares foram coletados. Isso significava que, enfim, os cientistas poderiam estudar o ’peixe misterioso’ a fundo: afinal, eles não tinham mais um único indivíduo e, sim, vários!
Hoje, após terem sido feitos muitos estudos, pode-se dizer que o ’peixe misterioso’ não só pertence a uma nova espécie, como também será preciso criar uma nova família e um novo gênero para classificá-lo, pois ele não se encaixa nos que já existem! Por isso, Jansen Zuanon considera essa descoberta a mais intrigante da sua vida até agora.

Espécies semelhantes, que compartilham algumas características — como forma do corpo, comportamento, cor e até características químicas — são reunidas em um gênero. Os gêneros, por sua vez, são agrupados em famílias. As famílias reúnem um ou mais gêneros que também têm algumas características em comum. O ‘peixe misterioso’ é uma espécie nova, pois difere das que já são conhecidas. No entanto, as características que ele apresenta são tão diferentes que não são encontradas em nenhum gênero existente, e tampouco em uma família conhecida.

“Para um cientista que trabalha no estudo de um grupo de animais ou plantas, descobrir uma nova espécie sempre é um prazer enorme e uma emoção especial”, conta. “Mas quanto mais diferente for a espécie, ou quanto mais inesperada for sua descoberta, maior a emoção.”

Porém, a descoberta não mexe apenas com os cientistas, mas com o público também. Ainda mais porque encontrar uma nova espécie, em alguns grupos de animais, não é algo trivial…

“Não é comum achar espécies novas de aves, por exemplo”, explica José Maria Cardoso da Silva, que ajudou a descrever a caburé-de-pernambuco. Afinal, como explica Marcos Raposo, aves e mamíferos são bichos estudados há muito tempo, que os índios já conheciam, são animais maiores ou que cantam, enfim, que aparecem.

Quanto aos peixes… “Em alguns locais do mundo, como na Europa e na América do Norte, a fauna de peixes é bem conhecida e espécies novas são raras”, conta Jansen Zuanon. “Porém, na América do Sul, em particular na Amazônia, a imensidão da região e a quantidade de rios e outros ambientes aquáticos nunca explorados cientificamente é grande. Por isso, há muitas espécies desconhecidas pela ciência.”

Mas descrevê-las não é trabalho para qualquer um! Quem se dispõe a fazê-lo, para Marcos Raposo, precisa ser metódico e responsável. Atenção para detalhes, paciência para comparar exemplares e descrições e curiosidade também são qualidades primordiais, diz Jansen Zuanon. “Gostar de trabalho de campo e ter disposição para viajar até locais nem sempre seguros e confortáveis também aumenta a chance de achar espécies novas”, conta. “Dizem ainda que uma dose de sorte não faz mal a ninguém…”

Descobrir e descrever espécies é importante, pois só assim conheceremos a diversidade de animais e plantas que há em áreas como a Amazônia. “Sem conhecê-la, fica difícil arranjar argumentos para preservá-la”, diz Jansen Zuanon. Além disso, novas espécies podem ter características que ajudem os cientistas a entender melhor a evolução dos grupos de animais ou plantas. Por isso, esse trabalho precisa ser feito sempre!