Sapo-cururu, na beira do rio…

Raquel Oliveira, A fama do sapo-cururu não é das melhores. Há quem diga que ele é capaz de lançar veneno em quem encosta em sua pele ou se aproxima. Mas está comprovado: isso não passa de mito! Cientistas acabam de descobrir que as glândulas que produzem e guardam o veneno desse anfíbio só funcionam quando pressionadas, o que ocorre, por exemplo, quando ele é mordido por um predador. Portanto, não há por que ter medo: o sapo não tem como lançar veneno em você de propósito!

Venenoso!

As glândulas que produzem e guardam o veneno do sapo-cururu — chamadas de parotóides pelos cientistas — ficam atrás dos olhos do animal e parecem duas bolas alongadas. Cientistas do Instituto Butantan, em São Paulo, e da Universidade de Düsseldorf, na Alemanha, as estudaram da seguinte forma: para simular a mordida de um predador, eles apertaram com os dedos glândulas de seis sapos. A seguir, analisaram tanto as que foram apertadas quanto as que não foram pressionadas.

“Observamos como o veneno era expelido e depois voltava às glândulas”, conta o biólogo Carlos Jared, do Instituto Butantan. Os pesquisadores concluíram que não há nenhum músculo ou estrutura em volta dessa glândula que seja responsável por liberar o veneno. Portanto, a defesa do sapo-cururu é acionada pela mordida do predador – e não pelo sapo. É a chamada defesa passiva.
Deixar ser mordido para se defender

A defesa passiva, comum entre os anfíbios, pode nos parecer estranha. Afinal, sendo mordido, o risco de o animal morrer é grande. No entanto, Carlos Jared explica que, agindo assim, o sapo-cururu protege a comunidade em que vive. “Alguns indivíduos morrem, mas como o veneno atinge o predador e ele passa muito mal, acaba associando esses efeitos ao veneno do bicho e aprende a não atacá-lo”, explica o biólogo.

Bicho venenoso é perigoso?

Por não ter como lançar seu veneno quando quiser, o sapo-cururu é considerado venenoso, como outros anfíbios e até algumas plantas. Ele não representa perigo, pois só libera veneno se suas glândulas são pressionadas. Já os animais peçonhentos são outra história. Alguns grupos de cobras, por exemplo, além de terem veneno, contam com estruturas para expeli-lo e injetá-lo, como músculos e dentes afiados. “Uma grande ‘vítima’ dos sapos-cururus são cachorros, que acham o pulinho do animal divertido, resolvem mordê-lo e acabam envenenados”, conta Carlos Jared. Ou seja, não há motivo para temer o sapo-cururu, mas fique de olho no seu bicho de estimação.

A glândula parotóide do sapo-cururu é composta por várias microglândulas. São cerca de 70 estruturas, que poderíamos comparar a garrafinhas, que guardam o veneno do animal. Quando o bicho é mordido, as microglândulas da área atingida são pressionadas e o veneno escapa como um esguicho pela parte mais frágil dessa estrutura: uma tampinha de pele.