Uma nova extinção em massa?

Você já ouviu falar de uma extinção em massa? É quando um número enorme de espécies que vivem na Terra simplesmente desaparece. Cientistas dizem que, para classificarmos um evento como uma extinção em massa, algo em torno de 70% das espécies de certo grupo precisam deixar de existir em um período de tempo relativamente curto. Já pensou que catástrofe?

Nenhum de nós ainda era nascido, mas, em um passado muito distante, cinco extinções em massa já aconteceram em nosso planeta. E você com certeza já ouviu falar da última delas – afinal, foi aquela que deu fim aos dinossauros. Isso aconteceu há cerca de 65 milhões de anos e acredita-se que a causa tenha sido a queda de um enorme meteorito onde fica hoje a península de Iucatã, no México.

O macaco mono-carvoeiro ((i)Brachyteles arachnoides(/i)) vive na mata atlântica e é o maior primata da América. Assim como outros grandes primatas, esse macaco vem desaparecendo dos ecossistemas tropicais. (foto: Pedro Jordano)

O macaco mono-carvoeiro ((i)Brachyteles arachnoides(/i)) vive na mata atlântica e é o maior primata da América. Assim como outros grandes primatas, esse macaco vem desaparecendo dos ecossistemas tropicais. (foto: Pedro Jordano)

A novidade é que, agora, cientistas acreditam que estamos caminhando rumo à sexta extinção em massa. E adivinha por quê? Calma, não há nenhum meteoro se avizinhando. O problema, dessa vez, é o homem. Ao que tudo indica, o ser humano está sendo responsável pelo declínio de muitas espécies que compartilham o planeta conosco.

Para você ter uma ideia, desde que se iniciaram as grandes navegações, por volta do século 16, nada menos que 322 espécies de animais já foram extintas – muitas delas, diretamente por causa da ação do homem. Um bom exemplo são os dodôs e o tigre-da-tasmânia.

Desde o século 16, animais como o tigre-da-tasmânia e o dodô foram extintos. (imagens: Domínio Público)

Desde o século 16, animais como o tigre-da-tasmânia e o dodô foram extintos. (imagens: Domínio Público)

Segundo um estudo feito pelo biólogo Mauro Galetti, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em parceria com o biólogo Rodolfo Dirzo, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, se nada for feito, a situação das espécies que ainda restam tende a complicar. “Nos últimos 40 anos, muitas espécies tiveram suas populações reduzidas em cerca de 30%”, diz o professor Mauro.

Extinção acelerada

Extinções são processos naturais: espécies surgem e desaparecem na natureza ao longo de milhares de anos. Mas isso costuma acontecer bem mais lentamente do que tem sido visto. “A velocidade das extinções que temos observado nos últimos tempos é cerca de mil vezes maior que a velocidade com que esse processo deveria ocorrer naturalmente”, explica Mauro. “Na verdade, tudo indica que a sexta extinção em massa já está acontecendo”.

O sudeste asiático, a Amazônia e os Andes são regiões que preocupam os pesquisadores pela elevada taxa de extinção de mamíferos, anfíbios e aves. (imagem: Félix Pharand-Deschênes, Clinton Jenkins, IUCN/Birdlife International / www.sciencemag.org)

O sudeste asiático, a Amazônia e os Andes são regiões que preocupam os pesquisadores pela elevada taxa de extinção de mamíferos, anfíbios e aves. (imagem: Félix Pharand-Deschênes, Clinton Jenkins, IUCN/Birdlife International / www.sciencemag.org)

Por que, afinal, devemos nos preocupar com a preservação dos bichos? “Não é só porque eles são bonitinhos; é porque eles fazem coisas na natureza que são indispensáveis ao bem-estar da nossa própria espécie”, garante Mauro.

Vejamos, por exemplo, o caso dos insetos: eles polinizam 75% da produção agrícola do mundo. Ou seja, se reduzirmos a população de insetos – como abelhas, por exemplo –, veremos prejudicada nossa produção de diversos alimentos. O mesmo vale para os morcegos e vários tipos de aves.

Outro exemplo interessante que o professor Mauro nos dá é o da onça-pintada. Esse felino controla a população de capivaras, que, por sua vez, controla a população de carrapato-estrela (Amblyomma cajennense), bichinho que carrega uma bactéria responsável por causar a febre maculosa em humanos, uma doença que pode matar.

“Muitas espécies são fundamentais à nossa sobrevivência. O ser humano não conseguirá viver no planeta sozinho”, comenta Mauro. Assim como ele, Rodolfo também acredita na importância da preservação da diversidade de espécies. “É um privilégio podermos compartilhar o planeta com uma quantidade tão impressionante de espécies; e é muito importante prezarmos para que essa riqueza natural não seja extinta por nossas ações”, completa.