Urubu pré-histórico

Os urubus são aves conhecidas por se alimentarem da carcaça de animais mortos, um hábito que pode parecer nojento para a maioria de nós, mas tem um papel muito importante na natureza, já que ajuda a retirar do ambiente o que é indesejável. Você sabia, porém, que os céus do Brasil pré-histórico já foram habitados por várias espécies de urubus, bem maiores do que as existentes hoje em dia? Um grupo de pesquisadores brasileiros encontrou em uma caverna de Minas Gerais vestígios de uma nova espécie, que viveu há cerca de 10 mil anos.

O Pleistovultur nevesi, como foi batizado, media mais de 2 metros da ponta de uma asa à outra e pesava entre 7 e 8 quilos. Para você ter uma idéia do que isso significa, saiba que a maior espécie de urubu encontrada hoje no Brasil, o urubu-rei, mede cerca de 1,80 metro de uma ponta da asa à outra e pesa em torno de 4 quilos. A nova espécie foi identificada a partir de um único osso da perna, com cerca de 15 centímetros de comprimento, encontrado em uma gruta na cidade de Matozinhos, próxima a Belo Horizonte.

“É muito difícil encontrar ossos de aves, pois eles são mais leves e frágeis, para permitir que o animal possa voar”, explica o paleontólogo Herculano Alvarenga, diretor do Museu de História Natural de Taubaté. “Esse osso, que estava em bom estado, se assemelha bastante ao do condor dos Andes, mas havia algumas diferenças notáveis. Por isso, concluímos que era uma nova espécie”.

O nome Pleistovultur nevesi é uma homenagem ao arqueólogo Walter Neves, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. O osso foi encontrado por um membro da equipe de Neves, que buscava encontrar vestígios de homens pré-históricos na gruta.

Grandes animais

A nova espécie de urubu pré-histórico, batizada de Pleistovultur nevesi, foi identificada a partir do estudo de um único osso da perna da ave (foto cedida por Herculano Alvarenga).

Herculano afirma que essa descoberta pode nos ajudar a entender melhor como era a fauna brasileira no passado. Há 12 mil anos, o país era habitado por animais de grande porte, como preguiças-gigantes e mastodontes, além de mais de 10 espécies de urubus e condores, que se alimentavam das carcaças desses bichos. Com o desaparecimento dos grandes animais, o número dessas aves também foi caindo. “Hoje, em nosso país, podemos encontrar apenas cinco espécies, que estão seriamente ameaçadas de extinção”, conta.

Essa é a mesma situação pela qual passam, atualmente, os abutres na África, explica Herculano Alvarenga. O continente, rico em grandes animais, como girafas, elefantes e hipopótamos, apresenta um enorme número de espécies de abutres, que também são carniceiros. Se os mamíferos de grande porte não forem preservados, isso certamente levará à extinção de várias espécies de abutres.

Além do Pleistovultur nevesi, o paleontólogo descreveu uma outra espécie de urubu, também a partir de um osso da perna, dessa vez encontrado no interior da Bahia. Ao que tudo indica, trata-se de um novo gênero, mas como o osso não estava em bom estado, não foi possível descobrir muitas informações sobre ele. Fica, então, a torcida para que, em breve, mais ossos de aves pré-históricas sejam localizados e, com eles, surjam novidades a respeito dos urubus e abutres do passado!