Vamos falar sobre Manga

Mangas são doces, suculentas, deliciosas. Mas não adianta ficar com água na boca: a manga de que falaremos hoje não é a fruta, e sim um projeto internacional de levantamento do céu do qual astrônomos brasileiros fazem parte. O objetivo é estudar dez mil galáxias próximas à nossa Via Láctea. Manga, aqui, é a sigla em inglês para “mapeando galáxias próximas com o Observatório de Apache Point”. Vamos conhecê-lo?

O projeto usará um instrumento que fica acoplado ao telescópio de Apache Point, chamado pelos pesquisadores de “unidade de campo integral”. De maneira simples, podemos entendê-lo como uma maçaroca de canudinhos de vidro capazes de transmitir raios de luz – em outras palavras, fibras ópticas! Seu funcionamento é semelhante ao de um olho composto de inseto.

Telescópio de Apache Point, situado no estado do Novo México, Estados Unidos. (imagem: Sloan Digital Sky Survey)

Telescópio de Apache Point, situado no estado do Novo México, Estados Unidos. (imagem: Sloan Digital Sky Survey)

Diferente do olho dos humanos, que funciona como uma câmera única, o olho dos insetos é formado por várias pequenas unidades que formam muitas imagens diferentes. Da mesma forma, no instrumento usado pelo Manga, os pequenos canudos de vidro captarão múltiplas imagens do universo. Reunidas, elas vão ajudar a mapear detalhadamente as propriedades físicas e químicas e os movimentos dos gases e de estrelas das nossas galáxias vizinhas.

Quando o “olho” do Manga apontar para uma galáxia, cada fibra óptica desse “olho” levará a luz coletada para ser analisada pelo “cérebro” do projeto. Esse “cérebro” é um espectrógrafo, instrumento que consegue separar a luz em seus diversos comprimentos de onda. Com isso, será possível identificar marcas do que pode ter acontecido no interior das galáxias. Mas o que exatamente?

Detector Manga com seu conjunto de fibras que será encaminhado para o espectrógrafo, instrumento dispersor de luz. (imagem: Dana Berry / SkyWorks Digital Inc., David Law e the SDSS collaboration)

Detector Manga com seu conjunto de fibras que será encaminhado para o espectrógrafo, instrumento dispersor de luz. (imagem: Dana Berry / SkyWorks Digital Inc., David Law e the SDSS collaboration)

Bem, muitas coisas podem acontecer dentro de uma galáxia. Por exemplo, o nascimento e a morte de estrelas, a existência de um buraco negro em seu centro, ou até a colisão com uma galáxia vizinha. Cada um desses acontecimentos deixa marcas que poderão ser observadas e interpretadas pelos astrônomos.

O projeto coletará informações como a quantidade de estrelas sendo formadas, a velocidade dos gases no interior das galáxias e a composição química de cada região do espaço, entre outros. Os dados serão reunidos em mapas e processados em programas de computador. Ao final do projeto, espera-se poder contar um pouco da história das galáxias que nos cercam e até prever seu futuro.

A imagem de uma galáxia e seus mapas de diversas propriedades físicas feitos usando os espectros coletados pelo Manga. (imagem: Sebastian Sanchez)

A imagem de uma galáxia e seus mapas de diversas propriedades físicas feitos usando os espectros coletados pelo Manga. (imagem: Sebastian Sanchez)

Todas essas galáxias se formaram há bilhões de anos e mudam muito, mas muito devagar mesmo. Desta forma, estudos como o Manga são a única forma que temos de saber mais sobre como as galáxias se modificam ao longo do tempo. Os trabalhos já começaram, mas os resultados ainda levam alguns anos para sair. Eu estou ansioso para descobrir!