Victoria, a planta aquática que dribla a água

A Victoria amazonica surpreende pelo tamanho. Algumas plantas podem ter mais de dois metros de diâmetro! Talvez por isso, muitas pessoas dizem que a Victoria suporta o peso de bebês e até de crianças. Porém, a bióloga Sônia Osman é enfática: “Isso tudo é lenda. A Victoria suporta apenas 2 kg, já que é uma planta maleável e extremamente sensível. O máximo que ela agüenta é o peso dos jaçanãs (pássaros da região), que fazem ninhos nela”. (fotos: Sônia Maciel)

Depois de passar um dia inteiro jogando bola, pulando e suando muito, você entra em casa e uma voz imediatamente grita a senha: chuveiro! Para alguns, tomar banho é um prazer; mas para outros… É um baita sacrifício! E os que sofrem em se molhar não estão sozinhos. Imagine que, no reino vegetal, há alguém que também se esforça para driblar a água: o problema é que sua vida é boiar.

A planta que tem truques para se esquivar da água é nativa da Amazônia. Seu nome, Victoria regia , era uma homenagem à rainha Vitória, que ocupou o trono na Inglaterra por mais de 60 anos. Mas um pesquisador chamado Sowerby decidiu renomeá-la, criando uma relação com seu hábitat. Assim, a Victoria regia passou cientificamente a se chamar Victoria amazonica.

Essa planta, que parece uma bandeja redonda, possui nervuras em sua parte inferior que a ajudam a flutuar sobre os lagos onde vive. Apenas o pecíolo, algo como um caule flexível que se prende no fundo do lago, a mantém em seu lugar. Por flutuar e ter uma borda que pode chegar a 12 centímetros, é difícil ocorrer o contato direto das águas do lago com as folhas da Victoria amazonica, o que causaria o apodrecimento delas.

Mas… e a água da chuva? Com as bordas, ela não deveria se acumular e formar uma piscina na folha? Deveria, mas a planta tem seus truques. Sônia Maciel da Rosa Osman, bióloga do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), explica: “Para escoar a água da chuva, a planta possui uma canaleta bem no meio de sua folha, de onde o líquido escorre até duas fendas na borda.” Segundo a pesquisadora, a água não escoada por essa canaleta atravessa pequenos canais e, com a ajuda de pêlos impermeáveis, é repelida para o lago, o que evita que a folha apodreça.

Observe bem no meio da folha uma pequena ‘linha’ branca. Essa é a canaleta por onde a água escorre até as fendas e vai para o lago.

Porém, não é apenas a água que a Victoria amazonica teme. Peixes e jacarés podem se tornar predadores em dias de fome. Para defesa, a planta possui espinhos na borda e na parte inferior da folha que podem causar um grande estrago na boca de quem tente uma mordida.

Com seus mecanismos naturais para driblar um excesso de água aqui e predadores acolá, a Victoria amazonica apresenta-se firme em seu hábitat. Mas existe uma ameaça para qual essa planta não tem defesa: interessados em ganhar dinheiro com o turismo, muitos moradores da região amazônica aplicam veneno nas plantas. Eles fazem isso para afastar besouros que comem as folhas dela. Esses insetos deixam a planta com furos e, conseqüentemente, mais feias e menos interessantes para os turistas. Mas não pense que isso é positivo: em vez de atacar a folha, os besouros passam a mirar a flor da Victoria amazonica. E a flor é o órgão reprodutor da planta. Sem ela, como a espécie pode se perpetuar?

A descoberta de que moradores estavam aplicando veneno na Victoria amazonica é recente. De modo que ainda não foi feito nenhum trabalho de conscientização da população sobre os riscos dessas ações. Mas um novo projeto de estudo da planta está para ser iniciado e vai incluir um trabalho social visando a preservação da Victoria amazonica. Você, que agora está informado, pode passar a notícia adiante!