Vovó tartaruga

Ela media apenas 15 centímetros de comprimento e se parecia muito com as tartarugas de água doce de hoje em dia. No entanto, viveu há 125 milhões de anos onde hoje fica a cidade de São Miguel dos Campos, em Alagoas. Estamos falando da Atolchelys lepida, a mais antiga espécie de tartaruga já descoberta no Brasil, tão antiga que conviveu com os dinossauros!

A nova espécie de tartaruga fóssil é a mais antiga já encontrada no Brasil, com 125 milhões de anos. (foto: Paulo Romano)

A nova espécie de tartaruga fóssil é a mais antiga já encontrada no Brasil, com 125 milhões de anos. (foto: Paulo Romano)

O fóssil do animal foi encontrado em 2009 por paleontólogos brasileiros que escavavam na região conhecida como Pedreira Atol e, depois de muito estudá-lo, os cientistas viram que se tratava de uma espécie muito antiga, até então desconhecida, pertencente a um grupo de tartarugas que se chama Pleurodira.

As Pleurodira têm um modo peculiar de encolher o pescoço para dentro do casco. Elas o fazem virando a cabeça de lado e por isso são chamadas também de side-neck turtles (do inglês, tartarugas de pescoço lateral).

Muitas espécies desse grupo já foram extintas, como a própria Atolchelys lepida, mas ainda existem tartarugas desse tipo vivas, como a tartaruga-da-amazônia e o tracajá. Ambas são parentes distantes da nova espécie encontrada.

A tartaruga pré-histórica é parente da atual tartaruga-da-amazônia. (foto: Whaldener Endo/Wikimedia Commons/ (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)CC BY-SA 3.0(/a))

A tartaruga pré-histórica é parente da atual tartaruga-da-amazônia. (foto: Whaldener Endo/Wikimedia Commons/ (a href=http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/)CC BY-SA 3.0(/a))

A descoberta de uma tartaruga Pleurodira tão antiga foi uma grande surpresa para os pesquisadores. Até então, eles só tinham encontrado fósseis desse tipo de tartaruga bem mais recentes, com 12 milhões de anos a menos.

“O achado mudou tudo o que sabíamos sobre a história da evolução das tartarugas desse tipo”, conta um dos paleontólogos envolvidos na pesquisa, Pedro Romano da Universidade Federal de Viçosa. “Com isso tivemos que mudar bastante a árvore filogenética das tartarugas”.

Essa árvore é bem parecida com uma árvore genealógica, um esquema que mostra a relação de parentesco entre os animais. A descoberta de que uma tartaruga Pleurodira era mais antiga do que se pensava fez com que os cientistas precisassem redesenhar a árvore de parentesco, colocando a nova espécie mais para trás, como “tataravó” de muitas outras espécies.

E pensar que eles acharam a vovó tartaruga por acaso! A paleontóloga Valéria Gallo, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, conta que estava procurando por fósseis de peixes quando se deparou com o casco.

“Sabíamos que era muito provável que houvesse outros animais onde estávamos escavando, mas, depois de cerca de 10 anos trabalhando no mesmo local, nunca tínhamos encontrado”, conta. “No dia da descoberta, já estávamos indo embora quando encontramos a tartaruga. Foi uma festa porque é um achado raríssimo!”

Agora você já sabe, quando olhar para uma tartaruga de água doce, há grandes chances de ela ser um parente distante da Atolchelys lepida!