Ciência Hoje das Crianças: O que mais impressiona você nos passeios a cavernas?
Marcel S. Lunghi: Talvez seja a beleza que não encontramos no dia a dia. Gosto muito das passagens estreitas, de vencer o obstáculo e encontrar um grande salão, que esconde formações minerais incríveis! São chamadas espeleotemas, e são lindas, intrigantes, às vezes seculares. Nos salões mais profundos, que chamamos de região afótica, onde já não há luz natural, gosto quando todos desligam suas lanternas por alguns segundos. É a escuridão verdadeira! Não dá para ver nem a própria mão. Mas a imaginação voa.
CHC: O que podemos encontrar no turismo de caverna?
MSL: Aventura! E o maior espetáculo é a formação rochosa, isto é, as rochas que formam o solo, as paredes e o teto. Elas apresentam uma característica diferente a cada caverna. E uma história própria que encanta o visitante.
CHC: Quantas cavernas existem no Brasil?
MSL: A Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE) iniciou o registro de cavernas com o Cadastro Nacional de Cavernas, que conta com 7.907 cavernas (dados de setembro/2019). Já pelo ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), através do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas, temos o Cadastro Nacional de Informações Espeleológicas, hoje com 19.413 cavidades registradas. Só que menos de 1% é visitável. E as turísticas, que recebem adaptações de segurança e monitoramento de visitas, são menos ainda!
CHC: Quais são os moradores mais comuns nas cavernas?
MSL: Os morcegos! Eles utilizam as cavernas como casa, e se abrigam ali durante o dia. À noite, saem em busca de alimento na mata ao redor. Dentro das cavernas, a fauna é bem restrita. Flora também. Normalmente, animais e vegetais se concentram no começo das cavernas, onde ainda há luz do Sol. Temos ainda as “claraboias”, que são aberturas no teto de salões. Elas possibilitam a entrada de luz, formação de vegetação e até a queda de animais que normalmente não estariam lá. Já na região afótica, onde não há mais luz natural, podemos encontrar raras aranhas e opiliões (muito parecidos com aranhas), lacraias e centopeias. E ainda fungos e microrganismos, que podem ser brilhantes ou bioluminescentes, refletindo a luz ou emitindo a própria luz. Garantem um grande espetáculo!
CHC: Qual é a importância de estudar as cavernas?
MSL: As cavernas podem abrigar muita história: da própria caverna, da região e da humanidade! Fósseis recentes ou históricos podem ser encontrados. Como são ambientes que consideramos isolados, cada caverna terá características específicas de formações minerais, como estalactites, estalagmites, colunas, cortinas, flores e pérolas. Os estudos são importantes para determinar as características de uma caverna e a importância da preservação. Inclusive para estabelecer se a visitação pode prejudicar aquela formação rochosa. Às vezes, a presença humana, temperatura e gases da respiração já podem destruir a beleza ou a vida encontrada ali.
CHC: Qual foi o trabalho mais legal que já fez?
MSL: Já participei de vários trabalhos de exploração e mapeamento de cavernas. Gosto muito da frase da famosa série Star Trek: “Onde nenhum homem jamais esteve”. Durante uma expedição de exploração, encontramos uma pequena passagem de ar e provavelmente água no período chuvoso. Ela estava parcialmente fechada por lama e detritos de rochas. Poderia ser o final da caverna. Poderíamos ter parado. Depois de muito estudo, decidimos escavar. Voltamos outro dia com pá e balde. Depois de três dias de escavação, saímos em um conduto, onde rastejamos até um grande salão, e a caverna continuou. Uma vitória, certamente!
CHC: Quais são as cavernas imperdíveis para visita no Brasil?
MSL: No estado de São Paulo, a região do Vale do Ribeira é bem conhecida. Gosto de recomendar o PETAR (Parque Estadual e Turístico do Alto Ribeira). Em Bonito, no Mato Grosso do Sul, temos a famosa Gruta do Lago Azul e a Gruta dos Anjos, e ainda o Abismo Anhumas. Ainda menciono a Torrinha e a Lapa Doce, na Bahia, cada uma com sua singularidade de formação geológica e beleza. Minas Gerais e Goiás também possuem parques com cavernas. Vamos pesquisar e montar o roteiro das próximas férias?
Elisa Martins
Jornalista, Especial para a CHC