
Entre Marte e Júpiter, existe uma região onde se encontram incontáveis corpos menores do que um planeta. Alguns são pequenos como uma bola de futebol, enquanto outros têm centenas de quilômetros de extensão. Estamos falando dos asteroides, que são blocos de rocha e metal que não se uniram para consolidar um planeta quando o Sistema Solar estava se formando, há quase 5 bilhões de anos.
Apesar de serem numerosos, os asteroides não formam uma região pela qual é impossível passar, como alguns filmes de ficção científica insistem em mostrar. Ficam tão distantes uns dos outros que a chance de uma espaçonave colidir com eles acidentalmente é extremamente pequena.
Ceres, o maior objeto do cinturão de asteroides é considerado um dos possíveis alvos na busca por vestígios de vida fora da Terra. Classificado como um planeta-anão, mais ou menos do tamanho da nossa Lua, sua forma esférica sugere um processo de formação semelhante ao dos planetas.
A missão Dawn da NASA, que orbitou Ceres entre 2015 e 2018, revelou uma superfície com evidências de montanhas e manchas brilhantes, sugerindo sinais de que, no passado (e talvez até hoje), materiais do interior saíram para a superfície. Um exemplo é o Ahuna Mons, uma montanha isolada com quase 4 quilômetros de altura, que parece ter se formado por uma “erupção gelada”. Esse tipo de erupção é chamada de criovulcão, que libera uma mistura de água, gelo, sal e lama fria.
E, como na ciência bons olhos de lince pode resolver um problema, a observação de que existem poucas crateras próximas a Ahuna Mons sugere que suas últimas erupções são relativamente recentes, porque não houve tempo para novas crateras serem formadas. Isso indica que Ceres pode ter mantido atividade geológica por mais tempo do que se pensava para um corpo do seu tamanho, e abre muitas possibilidades de investigação.
O que torna Ceres um alvo ainda mais interessante são seus compostos orgânicos, que podem ter sido formados no próprio corpo ou chegado até ele por meio de cometas ou meteoritos em colisões. Além disso, ele apresenta alto teor de água, o que pode sinalizar potencial para a existência de alguma forma de vida, já que a maior parte do seu interior é composta de gelo, e não de rocha.
Pesquisas mais recentes sugerem que Ceres teve, em algum momento, um oceano interno de água salgada e lama, que atualmente está todo congelado. E se houve água líquida em algum momento, há a chance de ter havido vida num passado distante.
Ceres é visto como um corpo celeste promissor para futuras investigações e coletas de amostras, especialmente por sua crosta fina e por estar mais próximo da Terra do que as luas oceânicas!

Eder Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo
Sou paulista, e já nem lembro quando nasci… Sempre fui curioso sobre o porquê das coisas, e desde criança tinha meu clubinho da ciência. Hoje sou professor de Geofísica e continuo xereta e buscando aprender muitas coisas, principalmente sobre a Terra e o Sistema Solar.
Matéria publicada em 30.09.2025