Eram dois jovens irmãos inseparáveis, que viviam no miolo da floresta amazônica. Durante o dia, cumpriam com os afazeres que os adultos lhes davam. À noite, gostavam se sentar em volta da fogueira, para ouvir as histórias contadas pelos mais velhos. Suas favoritas eram as dos animais. Segundo seu povo, os Tukano, alguns animais são sagrados e temidos, como uma enorme serpente que engole gente: a cobra-canoa!
Certa manhã, depois de uma noite mal dormida perguntando um ao outro se a história da tal serpente era verdadeira, os irmãos resolveram se distrair com uma boa pescaria. Pegaram a canoa e começaram a navegar rio adentro. Lá pelas tantas, eles acharam a canoa meio estranha, um pouco macia demais, com assentos quentes como a barriga de um cachorro. Não deram muita atenção, mas os sons que os dois ouviam também eram intrigantes: pareciam vozes distantes.
Sabe-se lá como aconteceu, mas, em vez de pegarem a canoa de sempre na margem do rio para pescar, os irmãos subiram na cobra-canoa! E as vozes que ouviam vinham da barriga do bicho: havia um monte de gente lá dentro!
Um dos irmãos então falou: “Alguém já deve ter voltado para contar essa história”. E o outro respondeu: “Desta vez, seremos nós!”. Certos de que se sairiam bem da situação, eles continuaram a viagem no dorso da cobra-canoa, na expectativa de alcançarem a terra firme. Que aventura! O bicho dava mergulhos fundos como um submarino, e os dois irmãos seguiam se equilibrando.
Reza a lenda que, nas costas da cobra-canoa, os irmãos conheceram muitos lugares, outras aldeias, línguas diversas… Dizem também que foi no chão de rio, perto de uma linda cachoeira, que eles conseguiram descer do animal. Pela bravura dos dois, a cobra-canoa libertou todos os humanos que trazia no bucho e sumiu rio adentro.
Esta noite, em volta da fogueira, adivinhe quem tem história para contar!
* A cobra-canoa faz parte dos mitos sobre a criação do mundo entre vários povos indígenas e ribeirinhos da floresta amazônica. Esta versão foi livremente adaptada pela CHC.
Fonte: https://www.scielo.br/j/his/a/RH7VJ76m5xQJbHxHQVpCqTN/
Matéria publicada em 02.12.2024