Na natureza, muitos animais têm características que até parecem superpoderes: voar, respirar na água, enxergar a luz ultravioleta, escalar paredes, mudar de cor… a lista é longa! Entre esses animais “superpoderosos” estão os rotíferos. É provável que você nunca tenha ouvido falar neles. Então, vamos conhecê-los?
Os rotíferos são animais muito, muito pequenos, que fazem parte do plâncton, uma verdadeira “sopa” de pequenos seres vivos que é a base da cadeia alimentar dos ambientes aquáticos. Os maiores rotíferos medem três milímetros de comprimento, mas os menores não passam de 40 micrômetros, o que equivale a um milímetro dividido por 25! Conclusão: você jamais verá um rotífero sem ajuda de um microscópio. Mesmo assim, eles estão entre nós, em praticamente qualquer lugar onde exista água, principalmente nos rios, lagos e lagoas, mas também em meio a musgos, solo úmido e até no mar.
E os “superpoderes” dos rotíferos, quais são? Para começar, muitas espécies são partenogenéticas. Isso quer dizer que não existem machos! As fêmeas conseguem, sozinhas, gerar clones, ou seja, cópias de si mesmas. Mas não é só isso…
Ao longo de sua evolução, os rotíferos “roubaram” parte do material genético de outros organismos, especialmente das bactérias. Isso tem o nome complicado de transferência horizontal de genes. Basicamente, parte do material genético – algo como o código que determina as características de cada ser vivo – passou das bactérias para os rotíferos. E isso é só o começo!
Por exemplo, se um trecho do material genético “roubado” da bactéria trouxer instruções para produção de uma proteína que combata outras bactérias (antibiótica) ou que combata fungos (antifúngica), o rotífero também passa a produzir essa substância para se proteger de infecções! Incrível, não?
E os superpoderes dos rotíferos não acabaram! Se a água onde vivem seca completamente, algumas espécies “dormem” até que o ambiente fique úmido de novo. Outras sobrevivem mesmo depois de congeladas a temperaturas de até 200 graus negativos! Inclusive, no ano de 2021, cientistas “acordaram” um rotífero que passou 24 mil anos no permafrost, uma camada de solo congelado da Sibéria.
Por fim, em 2023, pesquisadores descobriram que os rotíferos conseguem digerir microplástico, um poluente. Só que essa não é uma boa notícia, porque o microplástico não desaparece; ele é triturado pelos minúsculos animais em partes ainda menores e invisíveis, chamadas nanoplástico.
Os rotíferos são capazes de muitas proezas. Não é à toa que estão no planeta há milhões de anos. Mas eles não têm poder para acabar com a poluição causada pelo lixo que nós produzimos. Essa tarefa é nossa, e podemos começar trocando as sacolinhas plásticas por sacolas retornáveis. Esse é o superpoder da consciência ambiental!
Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!
Matéria publicada em 05.02.2025