Nome popular: Mutum-do-sudeste
Espécie: Crax blumenbachii
Tamanho: entre 80 e 93 centímetros e peso de até 3,5 quilos.
Classificação: Em perigo
Permita-me apresentar a você o mutum-do-sudeste! Essa ave é parente das galinhas domésticas, mas em tamanho bem maior. Não, o mutum-do-sudeste não vive em quintais ou granjas. Seu habitat é o chão das florestas da Mata Atlântica!
Repare na foto: o macho tem as penas da barriga na cor branca. Já na fêmea, essa plumagem é marrom-claro. Na cabeça, ambos carregam um lindo topete encaracolado – parecem até recém-saídos de um salão de beleza! Os cachinhos são totalmente pretos nos machos e multicoloridos nas fêmeas. E, sim, o bico desta ave chama muito a atenção! É vermelho nos machos e, nas fêmeas, preto.
O mutum-do-sudeste passa a maior parte do tempo procurando alimento no chão das florestas, sozinho ou em pequenos grupos de até quatro indivíduos. Assim como as galinhas domésticas, essa ave tem uma dieta bastante variada e nutritiva, incluindo frutos, sementes, folhas, invertebrados (como formigas, aranhas e caracóis) e até alguns vertebrados (como ratos e pequenas cobras).
Por sua dieta bastante diversificada, eles apresentam papel fundamental para a manutenção do equilíbrio ambiental. Quando se alimentam de pequenos invertebrados, por exemplo, evitam que eles se proliferem exageradamente. E, ao consumirem frutos e eliminarem suas sementes após a digestão, podem dar origem a novas plantas em outros lugares. E, se pensarmos que essas novas plantas, no futuro, produzirão frutos que novamente servirão de alimento para essa e outras espécies de aves, percebemos o quanto o mutum é importante para a existência de um ambiente em equilíbrio.
Os mutuns são aves bastante territorialistas, ou seja, não gostam de dividir o território em que vivem com ninguém, principalmente, entre agosto e março, quando se reproduzem. Nesse período, os machos constroem sozinhos os ninhos no alto das árvores, emitem um som característico e dançam para chamar a atenção das fêmeas, que, após o acasalamento, costumam colocar dois ovos.
Os filhotes nascem após 30 dias, com os olhos já abertos e com o corpo coberto de penas, sendo já capazes de seguir os pais pelo chão da floresta. A família permanece junta por cerca de quatro meses, enquanto os filhotes aprendem a se alimentar e a fugir dos predadores.
Apesar do tamanho considerável, os mutuns são aves de comportamento discreto, parecem não querer chamar atenção. São silenciosos, não apresentando cantos altos e melodiosos, cheios de “cocoricós”. Comunicam-se por um som baixo, nem sempre perceptível pela audição humana. Esse comportamento favorece a sua sobrevivência na busca por alimento e para escapar de predadores, como jaguatiricas, onças e… caçadores.
O mutum-do-sudeste não é encontrado em qualquer floresta, apenas nos estados da Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Vive em fragmentos florestais de Mata Atlântica maiores que 3 mil hectares, ou seja, maiores do que o equivalente a 4 mil campos de futebol de floresta nativa, que se encontrem em bom estado de conservação e com a presença de riachos de água limpa.
Muitas áreas de floresta onde a ave vive deram lugar às cidades, plantações e pastagens, o que reduziu drasticamente suas populações. Hoje, estima-se que haja somente cerca de 500 indivíduos na natureza. Além da perda de seu habitat, a caça também é uma ameaça constante que contribui para que essa ave seja classificada como ameaçada de extinção.
Como a quantidade de indivíduos de mutum-do-sudeste é pequena na natureza, pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica têm unido esforços junto a outras iniciativas para promover a reprodução da espécie em zoológicos e criadouros conservacionistas (que zelam pela conservação da espécie), para que os filhotes sejam, em breve, reintroduzidos na floresta. Alguns retornos à natureza já ocorreram no estado do Rio de Janeiro e em Minas Gerais, e são uma esperança para aumentar o número de mutuns nas áreas de Mata Atlântica. O objetivo é que essa ave brasileira saia logo da lista de espécies ameaçadas de extinção e volte a contribuir para a existência das florestas.
Flávia Guimarães Chaves
Instituto Nacional da Mata Atlântica
Matéria publicada em 02.06.2025
Heitor Francisco Rodrigues Melo
Eu pensei que a mutum-do-sudeste vivia em quintais,só que eu achei interessante que elas não gostam de dividir o território delas.Tchau