Bolinhas de gude na Lua

O que pequenas bolinhas de vidro encontradas na superfície lunar revelam sobre o satélite da Terra?

Fotos Wikipédia/NASA

Na superfície da Lua, misturadas com o fino solo, podem ser encontradas muitas esferas minúsculas de vidro vulcânico. Elas têm menos de um milímetro de diâmetro e… ou são produto de erupções vulcânicas antigas ou são originadas pelo impacto da Lua com outros corpos do Sistema Solar.

Como a Lua não tem atmosfera para diminuir o choque da chegada de corpos externos, os impactos de asteroides e cometas são mais frequentes, e deixam marcas facilmente visíveis: as famosas crateras lunares! Mas, além destas enormes estruturas, rochas fraturadas e estes pequeninos fragmentos de vidro vulcânico são comuns nestas regiões. 

Pode parecer apenas curiosidade, mas na ciência as grandes descobertas podem ter origem em pequenas estruturas ou detalhes. Neste caso, não é diferente: estas minúsculas esferas de vidro contam muito sobre a Lua e até mesmo sobre a Terra. Duvida? 

A análise das amostras coletadas pela missão chinesa Chang’e-5, que pousou na Lua em dezembro de 2020 e coletou quase dois quilos de amostras do lado oculto do satélite, trouxe uma surpresa: uma pequena parte das esferas de vidro apresenta uma composição muito diferente das rochas lunares conhecidas. Elas apresentam um teor de óxido de magnésio (um composto químico sólido) três vezes maior do que o normal para rochas da superfície, mas compatíveis com o que se espera das rochas da camada mais profunda do satélite, o manto lunar. A conclusão dos cientistas é de que o impacto que gerou estas bolinhas de vidro foi tão forte que chegou a atingir profundidades de algumas dezenas de quilômetros. Uma bela trombada, hein?

Mas o que isso tem de interessante? Muita coisa! Primeiro: a análise deste material de origem profunda traz uma preciosa informação sobre o interior lunar, onde não é possível entrar. E tem mais! Atualmente, os cientistas acreditam que a Lua tenha sido formada a partir de um impacto de um corpo muito grande com a Terra, no início da formação do nosso planeta. Algumas rochas lunares têm composição muito parecida com as do manto terrestre, por isso, a análise do manto lunar com estas características reforça essa teoria. 

Outro aspecto importante dessa descoberta é o fato de que, provavelmente, a Lua sofreu um grande número de impactos muito grandes durante uma considerável parte de sua “juventude”, porque a idade destas bolinhas de vidro é relativamente pequena. Isso significa que o mesmo pode ter ocorrido também na Terra e demais corpos do Sistema Solar, o que é muito importante para entendermos mais sobre a origem e evolução dos planetas do nosso sistema. Até agora, acreditava-se que esses grandes impactos tinham ocorrido apenas nas fases iniciais da formação da Lua e dos planetas.

Então, conta pra gente: você imaginava que detalhes tão pequenos quanto minúsculas bolinhas de vidro poderiam revelar tanto sobre a Lua e a Terra?


eder_molina

Eder Molina
Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas
Universidade de São Paulo

Sou paulista, e já nem lembro quando nasci… Sempre fui curioso sobre o porquê das coisas, e desde criança tinha meu clubinho da ciência. Hoje sou professor de Geofísica e continuo xereta e buscando aprender muitas coisas, principalmente sobre a Terra e o Sistema Solar.

Matéria publicada em 09.07.2025

Comentários (2)

  1. oi CHC, eu adorei a noticia. Só descobri isso por causa da minha tarefa. Não sabia que existia pequenas bolinhas de vidro na lua, eu e meu pai adoramos, um beijo tchau!!!!

    1. Oi, Julia, obrigado pelo comentário. A Lua tem muitas surpresas escondidas, e fico feliz em saber que você e teu pai gostaram da descoberta.
      🙂

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