
Nas profundezas do oceano, animais que pensávamos ter desaparecido muitos milhões de anos atrás reapareceram. A história é longa… puxa uma cadeira aí!
Em 15 de outubro de 1950, um navio dinamarquês chamado Galathea saiu da cidade de Copenhague com cerca de 100 tripulantes, incluindo muitos pesquisadores, em uma longa expedição científica. A missão: procurar por seres vivos nas regiões mais profundas dos oceanos. Ao longo da viagem, que durou quase dois anos, muitas criaturas marinhas foram descobertas.
No dia 6 de maio de 1952, no oceano Pacífico, próximo à Costa Rica, as redes de pesca da Galathea desceram 3.600 metros no fundo do mar, uma região tão profunda que a luz do Sol nunca chega lá. A escuridão é total. Quando as redes foram recolhidas, os pesquisadores analisaram com calma tudo o que havia sido pescado. E ali estava uma criatura surpreendente.
Não era nenhum monstro marinho. Verdade seja dita, o animal era apenas um pouco maior que uma moeda de 1 real. Por cima, tinha uma concha fina e frágil, em forma de capuz. Por baixo, um corpinho molenga e circular, com uma boquinha, um ânus (para fazer as necessidades) e várias brânquias para captar o oxigênio da água, parecidas com pequenos pentes, cientificamente chamadas de ctenídeos.
Era certo que se tratava de um molusco, grupo ao qual pertencem lulas, polvos, caracóis, mexilhões, ostras e muitos outros bichos. Mas a pequena criatura das profundezas não era nenhum deles. Era um monoplacóforo, um tipo de animal que estava desaparecido há muito, muito tempo.
Monoplacóforo vem do latim e significa “que tem uma placa”, porque eles têm só uma concha. Até aquele momento, cientistas só conheciam monoplacóforos fósseis, com pelo menos 400 milhões de anos de idade. Então, imagine a surpresa que foi encontrar não um, mas uma dezena de monoplacóforos vivos: uma descoberta e tanto!
Desde então, cerca de 30 espécies atuais de monoplacóforos já foram encontradas nos oceanos de todo o mundo, em águas mais rasas e mais profundas. Mas, veja bem: isso não significa que os monoplacóforos de hoje são os mesmos de milhões de anos atrás. Embora muito parecidas com seus parentes extintos, as espécies atuais são outras. Esses animais continuam evoluindo, mas estão tão adaptados ao seu hábitat, que grandes mudanças não costumam ser vantajosas por lá.
Mas como que eles desapareceram durante centenas de milhões de anos? Na realidade, não desapareceram. É que seus fósseis são raros e muito difíceis de encontrar. Na década de 1990, por exemplo, fósseis de monoplacóforos mais recentes foram descobertos, de espécies que viveram há “apenas” 5 milhões de anos, aproximadamente.
Os monoplacóforos podem ser pequeninos e difíceis de encontrar na natureza. Mas, quando aparecem, eles nos ensinam que ainda temos muito a aprender sobre o mundo animal do passado e do presente.

Henrique Caldeira Costa,
Departamento de Zoologia
Universidade Federal de Juiz de Fora
Sou biólogo e muito curioso. Desde criança tenho interesse em pesquisar os seres vivos, especialmente o mundo animal. Vamos fazer descobertas incríveis aqui!
Matéria publicada em 30.09.2025