

A vida de alguns animais coloridos pode ser cheia de fortes emoções. Isso porque exibir cores muito chamativas, embora possa ajudar a atrair parceiros da sua própria espécie, pode deixar o indivíduo mais visível aos predadores. Por isso, é comum que alguns insetos coloridos apresentem estratégias de defesa que compensem essa exibição quando o assunto é sobreviver!
Um bom exemplo é o da capitão-do-mato, uma das maiores borboletas brasileiras. Ela pode chegar ao tamanho de uma caneta, medindo-se de uma ponta à outra das asas. Não bastasse o tamanho avantajado, apresenta uma coloração azul metálica que a destaca ainda mais durante seus voos pelas florestas. Aparentemente, o seu nome está associado ao tamanho e destaque desta borboleta na natureza, como se isso conferisse a ela um caráter de superioridade ou liderança (capitão) sobre os demais insetos.
Mas uma pergunta vem intrigando os cientistas há mais de 150 anos: com uma aparência assim tão chamativa, como será que ela faz para escapar de seus principais predadores, como bem-te-vis e sabiás?
Uma possível explicação é que a capitão-do-mato usa uma estratégia conhecida como “coloração dinâmica”, em que a cor chamativa é exibida apenas durante breves momentos, como em um flash fotográfico. No caso dessa borboleta, a coloração azul está apenas na parte de cima das asas, contrastando com a parte de baixo amarronzada, o que dá a sensação de pisca-pisca quando ela está em voo.
Simulações de borboletas voando em uma tela de computador já haviam mostrado que humanos têm mais dificuldade em seguir com os olhos os insetos com cores contrastantes entre as partes de cima e de baixo das asas. Mas foi um grupo de pesquisadores brasileiros que conseguiu mostrar pela primeira vez que essa estratégia funciona com borboletas reais na natureza.
Usando tintas especiais, que não prejudicam as borboletas, eles mudaram as cores das asas de algumas capitães-do-mato. Aquelas que ficaram com asas azuis tanto em cima quanto em baixo foram mais facilmente atacadas pelas aves, aparentemente porque não conseguiram confundi-las através da mudança repentina de cores durante o voo. Incrível, não?

Vinícius São Pedro,
Centro de Ciências da Natureza,
Universidade Federal de São Carlos
Sou biólogo e, desde pequeno, apaixonado pela natureza. Um dos meus passatempos favoritos é observar animais, plantas e paisagens naturais.
Matéria publicada em 30.09.2025
Beatriz de Almeida Gonçalves
Gostei muito da revista, principalmente que fala do meu inseto favorito!! O texto é detalhado, elaborado e fácil de entender. Agora vou ficar reparando nas borboletas rsrs.
theo
muito bom o texto.