Do focinho ao cérebro

Lá vai o gato, escapando pelo portão para dar uma voltinha na rua. Vai longe, saltando muros e telhados. Mas, curiosamente, não se perde: sempre volta para casa. Enquanto isso, o cachorro, treinado pela polícia, trabalha no aeroporto. Ele consegue farejar substâncias ilegais, mesmo quando estão bem embaladas e escondidas nas bagagens. Esses animais têm sim um superolfato! E o que explica isso?

Ilustração Marina Vasconcelos

O superolfato dos cães e gatos é realmente impressionante. Permite, por exemplo, que reconheçam seus tutores mesmo quando perdem a visão e a audição. Nós, humanos, passamos longe dessa sensibilidade olfatória. Mas, como pode?  Se o cérebro dos humanos é tão desenvolvido, como cães e gatos são capazes de perceber mais odores do que nós? 

Para entender como o sistema olfatório – o sistema sensorial capaz de perceber os diferentes cheiros (ou odores) – se organiza, precisamos viajar do focinho ao cérebro! Topa?

Bons de faro

A nossa viagem começa pelo nariz – também conhecido como focinho nos demais mamíferos. Dentro dele há muitas células para detecção de odores. Mas onde elas ficam? Vamos com calma… Você certamente já reparou que, na parte interna do nosso nariz, há pelinhos. Eles têm a função de filtrar a poeira e tentar reter os germes quando respiramos, mas não têm papel algum na percepção de odores. Seguindo pela cavidade nasal, mais acima, está o epitélio olfatório. É nele que estão as células olfatórias, as responsáveis pela detecção de odores.

Cães e gatos não têm pelinhos dentro do nariz como os humanos, mas têm células olfatórias em quantidade muito maior do que as nossas. Podemos imaginar essas células como as cerdas de uma escova de dente. Bem na pontinha delas, ficam os receptores de odores, que são ativados pelas diferentes substâncias químicas dissolvidas no ar. 

Cada um dos receptores de odores está preparado para reconhecer uma molécula química específica (é como brincar de lego: a peça tem que encaixar certinho na outra!). Quando isso acontece, uma mensagem é enviada para o cérebro para que seja interpretada. É lá, em regiões específicas, que a percepção do odor acontece. Sim, é no cérebro que se distingue entre o cheiro do tutor, de um alimento ou do caminho de volta para casa, não no nariz!

Superolfato

Nós, humanos, temos aproximadamente 6 milhões de células olfatórias. Já os gatos têm algo entre 40 e 80 milhões, enquanto os cães ganham a disputa, apresentando de 120 a 300 milhões de células olfatórias!

Os gatos têm habilidade de detecção de odores superior a dos humanos.
Fotos Freepik

Nariz especial

Algumas raças de cães têm o nariz, digamos, diferenciado. Os ossos são organizados de tal maneira que o ar inspirado atinge diferentes regiões nas narinas. É como um túnel onde, numa determinada parte, o teto e o chão ficam mais próximos.  Neste trecho, o ar passa bem devagarinho, permanecendo mais tempo em contato com os receptores olfatórios. Assim, eles são estimulados por um período maior de tempo, aumentando a capacidade de reconhecimento de diferentes odores durante o farejamento.

A habilidade de farejar de algumas raças de cães é tão incrível que os torna aptos a trabalhar lado a lado com humanos. É que, como são cães com esse diferencial natural para o farejamento, eles podem ser treinados para encontrar substâncias ilegais, explosivos, resgatar pessoas e até mesmo detectar se uma pessoa tem câncer, através do cheiro da urina dela! Viu só como parecem ser mesmo os melhores amigos do homem?

Já os gatos não parecem ter uma habilidade de detecção de odores tão eficiente como a de algumas raças de cães, mas, sem dúvida, é superior à nossa! Gatos têm a cavidade nasal alongada, o que também facilita que o ar fique mais tempo em contato com as células olfatórias. Além disso, têm uma habilidade muito curiosa de controlar os músculos do nariz, direcionando o ar para áreas específicas, o que colabora para o farejamento aguçado desses animais.

A habilidade de farejar de algumas raças de cães é tão incrível que os torna aptos a trabalhar lado a lado com humanos.
Foto divulgação
Cães treinados são capazes de farejar substâncias químicas liberadas pelo corpo humano, através da pele e das glândulas de suor.
Foto Wikimedia Commons

Instintivamente

Está sentido cheiro de mais curiosidades no faro de cães e gatos? Pois tem mesmo! Esses animais apresentam uma estrutura chamada órgão vomeronasal, capaz de reconhecer feromônios. Você já ouviu falar nisso?

Feromônios são substâncias químicas liberadas pelo corpo que têm um papel muito importante na comunicação entre indivíduos da mesma espécie e, em alguns casos, com outras também. Eles podem transmitir diversas informações sobre o animal, como seu estado emocional, se está na fase de acasalamento ou se está marcando território, bem como refletir a capacidade de identificação de indivíduos familiares ou estranhos.

O mais incrível é que os feromônios desencadeiam uma resposta emocional inconsciente, que não depende de qualquer aprendizagem prévia. É instintivo: o animal sente o cheiro e sabe como reagir! Isso acontece porque os neurônios do órgão vomeronasal se conectam diretamente a uma parte do cérebro chamada sistema límbico, que é responsável pelas emoções e pelo processamento de estímulos relacionados ao prazer, medo e outros aspectos emocionais.

Meu humano favorito

Será que a percepção de odores explica quando o gato ou o cachorro tem preferência por uma pessoa da família? A resposta é… sim! O corpo de cada um de nós também libera substâncias químicas através da pele e das glândulas de suor. E é curioso que cada pessoa vai liberar uma composição específica, como se fosse a sua identidade em forma de cheiro. Cães e gatos conseguem detectar com facilidade isso, e assim associam cada combinação de “cheiros” a determinada pessoa. Por isso reconhecem todas pessoas da família, especialmente aquela por quem têm preferência. 

Além disso, quando interagimos com os animais, seja fazendo um carinho ou uma brincadeira, eles conseguem perceber a mudança no cheiro, e isso representa uma diversão, um momento de afetividade e até mesmo de recompensas.

Parece que, para cães e gatos, um cheirinho pode valer mais do que mil palavras!

Bruna Carneiro
Bruna Oliveira
Priscilla Bomfim
Núcleo de Pesquisa, Ensino, Divulgação e Extensão em Neurociências
Universidade Federal Fluminense

Matéria publicada em 01.10.2024

Comentários (15)

    1. Reginaldo kenes faria Fernandes

      ! Esses animais apresentam uma estrutura chamada órgão vomeronasal, capaz de reconhecer feromônios. Achei bacana um conhecimento impressionante que jamais imaginei que animais sente mas cheiro do que a gente igual do seu humano sabe diferenciar só pelo suor bacana mesmo,

    2. maria alice santos de oliveira

      Hola eu gostei muito dessa materia .

  1. gostei muito e achei muito fofo

  2. Adoramos! Aqui temos nossos cães Lia e Yuri ❤️

  3. Foi um texto muito bom nome do focinho ao cérebro

  4. Yago Rodrigo Ferreira dos Reis

    O texto é muito legal, recomendo!!!, vimos da escola Municipal Beatriz Pampulini. Minas Gerais. Brumadinho.

  5. Eu gostei muito do texto ele é muito bom nota 10.

  6. Legal a matéria, mais por que o gato está desvasardo de ser humano?

  7. Reginaldo kenes faria Fernandes

    Esse animais apresentam uma estrutura chamado órgão Vomeronasal , capaz de reconhecer fenômenos, muito interessante esse trecho falando do farejamentos do animal , jamais imaginei que e maior cheiro que eles tem diferente da gente consegue detecta seu dono pelo suor
    6 ° 04. Escola Beatriz Pampuline
    Nome Reginaldo kenes

    Prof Amé

  8. Bom dia, CHC!

    Somos alunos do colégio Oshiman e estamos no 3º ano, gostamos muito do artigo: do focinho ao cérebro, pois não tínhamos conhecimento sobre o olfato dos cães e gatos.
    Adoramos animais! Continuem publicando.

    Até mais,

    Alunos do 3ºA

  9. Olá CHC!Sou Sofia Naomi de Melo Oyama,gostei muito de saber sobre o super olfato dos cães e gatos podem ajudar pessoas.Até mais!

  10. Ola CHC ! Sou Hadassa , eu gostei muito de saber sobre as habilidades dos caes de cheirar as coisas ! Ate mais !!!

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