Dom Obá II d’África

De fraque e cartola, o neto do rei do Império de Oyó desfilava pelas ruas do Rio de Janeiro.

Um príncipe africano, negro, que viveu no Brasil durante o período em que ainda havia escravidão e o país era governado por um imperador, Dom Pedro II. Seu nome era Cândido da Fonseca Galvão, mas ele gostava mesmo era de ser chamado de Dom Obá II d’África (Dom Obá, na língua do seu povo ioruba, significa “rei”). Ele nasceu no sertão da Bahia, na Vila dos Lençóis, por volta de 1845. Era filho de africanos forros, ou seja, ex-escravos que haviam conquistado a sua liberdade por meio da carta de alforria. Se dizia descendente direto, neto legítimo, de um poderoso rei africano – Aláafin Abiodun, rei do Império de Oyó –, por isso gostava de ser reconhecido como príncipe.

Em 1865, Dom Obá se juntou ao exército brasileiro como voluntário para lutar na Guerra do Paraguai, após o imperador prometer uma série de vantagens a quem se alistasse para ir para a guerra – era um dos chamados “Voluntários da Pátria”. Essa guerra, que foi a mais sangrenta ocorrida na América Latina no século 19, envolveu uma aliança entre Brasil, Argentina e Uruguai contra o Paraguai, terminando com a derrota dos paraguaios. Promovido a alferes (um título oficial do exército), Dom Obá acabou sendo ferido na mão durante o conflito e foi dispensado. Após retornar ao Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro, indo viver no Centro da cidade, na região conhecida como Pequena África. Esse era um local historicamente habitado por africanos e seus descendentes, que vinham de várias partes do país e reafirmavam no lugar, diariamente, a sua identidade.


 

Robertha Triches
Professora do Departamento de História do Colégio Pedro II
Doutora pela Universidade Federal Fluminense

Sou professora de História e adoro falar sobre as personalidades que marcaram o Brasil de outras épocas!

Matéria publicada em 19.08.2019

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