Como a ciência usa pesquisa, tecnologia e inovação para manter o esporte limpo do uso de substâncias proibidas.

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O que mais chamou a sua atenção nos Jogos Olímpicos de Paris? As medalhas dos atletas representantes do Brasil? Alguma modalidade em especial? Ou a mascote da edição, chamada Phryge? O espírito olímpico também marcou presença na capital francesa! Mas sabe o que não combina nada com esse clima? O uso de substâncias que são proibidas para os atletas, o chamado doping. 

Nesta edição da Olimpíada, dois atletas, um judoca do Irã e uma jogadora de vôlei da República Dominicana, foram flagrados usando algum remédio ou vitamina não permitidos para melhorar seu desempenho nas competições. Tentar descobrir esses casos é uma corrida de gato e rato entre autoridades do esporte mundial com esportistas que tentam trapacear para ter vantagens nas disputas. Mas as autoridades contam com um aliado que melhora a cada ano: a ciência, claro! A tecnologia não para de avançar, buscando manter o esporte “limpo” e, de quebra, alertar também os atletas, já que essas substâncias proibidas fazem um mal danado à saúde.

Grão de areia

A Agência Mundial Antidoping, conhecida pela sigla WADA, é a instituição responsável por fazer esse controle entre os esportistas. Os atletas, por sua vez, passam por uma série de exames, como de sangue e de urina, para verificar se estão competindo sem usar essas substâncias não permitidas. Essas avaliações são obrigatórias e são feitas sem aviso prévio, durante uma competição, ou fora dela.

“A sofisticação dos métodos de detecção evoluiu muito nos últimos anos”, diz o coordenador técnico-científico do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) André Siqueira, doutorando da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, em Portugal. “O laboratório do Rio, que é credenciado pela agência mundial, possui precisão e sensibilidade absurdas! Nele é possível identificar um nanograma de substância em um mililitro de urina ou sangue. É como encontrar um grão de areia em uma praia!”, compara.

Passaporte biológico

Uma novidade interessante são os chamados passaportes biológicos, que foram usados em Paris. “Os passaportes são registros dos dados fisiológicos dos atletas após a coleta periódica de sangue e urina. Qualquer alteração que fuja do normal acende um alerta para o início de investigações posteriores, ou até para uma punição imediata”, conta Siqueira. 

E os atletas que são pegos no exame de doping podem pagar caro! Além de serem impedidos de continuar participando nos próprios Jogos, como aconteceu com o judoca do Irã, os esportistas podem ser punidos com penas que chegam a até oito anos de suspensão. E, caso sejam pegos de novo em algum desses exames, podem ser excluídos para sempre das competições.

Inteligência artificial e educação

Outro aliado na corrida contra o doping é a inteligência artificial. Especialistas acreditam que ela pode ajudar a aumentar a vigilância sobre desempenhos suspeitos de atletas. “Existem mínimas alterações que aparecem em testes e, às vezes, não são relacionadas diretamente a uma substância proibida, mas que podem dar pistas muito interessantes nessa direção. Mas nós, seres humanos, não conseguimos detectá-las. Já a máquina poderá analisar talvez 300 marcadores diferentes e chegar a um resultado que pode ser contundente e até provar o uso de substâncias”, diz Siqueira. 

Até lá, há muito a fazer. Muita gente ainda não sabe o que é doping e como ele funciona. Siqueira diz que defender um esporte limpo depende de todos: autoridades, atletas e o público. Afinal, a educação antidoping também faz parte do espírito olímpico. E que venham os próximos Jogos! Em 2028, a sede será em Los Angeles, nos Estados Unidos.