Gigantes viajantes (parte 1)

A surpreendente vida da baleia-jubarte.

Foto Enrico Marcovaldi/Projeto Baleia Jubarte

Uma visitante frequente e surpreendente do litoral brasileiro é a baleia-jubarte. Esse mamífero marinho, que viaja muito até chegar em águas brasileiras, tem o nome científico Megaptera novaeangliae, cuja origem é grega e significa “grande asa”. Isso tem tudo a ver com suas nadadeiras peitorais, que podem alcançar até um terço do seu tamanho. E, talvez você não saiba, mas as jubartes medem até 16 metros de comprimento e pesam até 40 toneladas! Sim, são enormes! Têm uma coloração quase negra, uma nadadeira dorsal grande e uma cauda que pode variar de toda branca a toda preta – cada indivíduo tem o seu padrão, como as nossas impressões digitais. 

Foto Instituto Baleia Jubarte

Apesar de uma boca gigantesca, a jubarte se alimenta de pequenos animais, como o krill, crustáceo semelhante a um camarão. Em vez de dentes, esse mamífero possui placas enfileiradas de queratina (substância que compõe as nossas unhas e cabelos), cerdas semelhantes às das escovas e denominadas “barbatanas”. Ao abrir a boca, a jubarte captura seu alimento e uma grande quantidade de água, que é expelida entre as barbatanas. Para obter energia suficiente, esses mamíferos consomem até cerca de 2 mil quilos de krill por dia!

As jubartes respiram ar através de suas narinas, que estão posicionadas no alto da cabeça – uma adaptação para a vida no mar. Seu respiro é o borrifo, que acontece quando elas sobem e exalam o ar quente de seus pulmões, que, por sua vez, ao entrar em contato com o ar mais frio, forma uma nuvem de gotinhas de água que pode chegar a três metros de altura. Em seus mergulhos, essas gigantes do mar podem permanecer até cerca de 30 minutos submersas, e alcançar mais de 600 metros de profundidade.

Assim como pessoas que vivem em diferentes países, as jubartes podem ser encontradas no mundo todo, divididas em populações. Exceto por uma população no Mar da Arábia, as demais se deslocam de áreas polares, onde passam o verão se alimentando, para áreas tropicais, em busca de águas mais quentes e protegidas, para se reproduzirem e terem seus filhotes. Esse movimento é chamado migração.

As jubartes que nadam pelo litoral brasileiro se alimentam no entorno das ilhas Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, na região antártica, e se reproduzem na costa brasileira, mais especificamente, se concentram na região do Banco dos Abrolhos, entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo – uma jornada de ida e volta de quase 9 mil quilômetros!

Para a reprodução, elas se juntam em grupos competitivos formados por uma fêmea nadando à frente, seguida por muitos machos que vão competir por ela. Durante essa disputa, as baleias saltam, dão golpes de cabeça e de cauda, e os machos mais fracos vão deixando o grupo, até restar o mais forte, que vai ter a chance de acasalar com a fêmea.

Assim como as pessoas apaixonadas cantam músicas, as jubartes machos cantam para atrair a fêmea (são os únicos mamíferos marinhos que fazem isso!) e demarcar seu território. Essa canção é uma composição complexa, com o formato semelhante às nossas canções, e vão mudando um pouquinho a cada ano.

Segundo pesquisas sobre a vida das baleias e dos mamíferos marinhos, o nascimento de uma nova jubarte aconteça à noite. Após 11 meses de gestação, a baleia jubarte fêmea dá à luz um único filhote de aproximadamente quatro metros de comprimento e cerca de uma tonelada. O bebê baleia consegue mamar até 100 litros de leite por dia, e com um ano de idade já é independente e se separa da mamãe baleia. 

Gostou de saber esses detalhes da vida das baleias-jubarte? Então, fique de olho na parte 2 dessa aventura.


Tássia Biazon
Cátedra UNESCO para a Sustentabilidade do Oceano
Universidade de São Paulo  

Rafaela C. Faria de Souza
Coordenadora da base do Projeto Baleia Jubarte em Ilhabela, SP

Isabelle Avolio Tristão
Educadora ambiental no Projeto Baleia Jubarte em Ilhabela, SP

 

Matéria publicada em 06.09.2024

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