Que raiva é essa?

Todos os dias a hora do recreio é a hora da diversão. É um tal de falar alto, correr, pular, dar risadas… Aquele parecia ser mais um recreio comum, até que alguém deu um grito tão alto, que causou um silêncio geral. Em seguida, ouviu-se um choro. O que veio depois foi conversa do tipo “quem conta um conto aumenta um ponto”. Fofoca mesmo! Disseram que um menino do quarto ano não aceitou as regras da brincadeira dos meninos do terceiro ano e foi excluído. Cheio de raiva, o menino do quarto ano deu um empurrão em um dos meninos do terceiro ano, que caiu, gritou, e chorou e… Bem, a raiva é uma emoção que, por vezes, faz alguém tomar atitudes que não deveria. Acontece que existe outro tipo de raiva, que não tem motivação emocional, mas também pode modificar o comportamento de pessoas e de outros animais. Essa raiva é causada por um vírus! Você já ouviu falar nela?

Ilustração Mariana Massarani

A raiva é uma doença conhecida há mais de 4 mil anos. Há representações artísticas – pinturas e esculturas – de animais associados à raiva mais antigas do que as pirâmides do Egito! Há também registros por escrito sobre a doença deixados há milhares de anos. Essas informações indicam que, de repente, humanos e outros animais começavam a agir de forma muito estranha: ficavam agressivos, babavam e até tinham medo de água! Socorro!

Naquela época, ninguém sabia o que era um vírus, um microrganismo com potencial de provocar doenças em qualquer ser vivo. Como o mundo microscópico era ainda desconhecido, as pessoas costumavam atribuir o comportamento estranho, típico da raiva, a feitiços ou maldições. Mas a raiva não é algo que ficou no passado. É ainda uma doença perigosa, que causa de cerca de 60 mil mortes por ano no mundo. Mas é possível evitá-la!

Olha a espetadinha!!!

Até 1885, a raiva era uma doença invencível. Mas naquele ano, as coisas iam mudar! Um cientista francês chamado Louis Pasteur, que há muito tempo se dedicava a estudar os microrganismos, testou pela primeira vez a sua vacina contra a raiva em um menino chamado Joseph Meister, mordido por um cão raivoso. Felizmente, deu certo! O menino sobreviveu!

O feito de Pasteur foi tão incrível que abriu caminho para que as pessoas confiassem nas vacinas. Aposto que esse é o seu caso, que você pode até ter medo da espetadinha da vacina, mas prefere esse incômodo rápido a desenvolver uma doença grave, certo?

 O cientista francês Louis Pasteur desenvolveu a vacina contra o vírus da raiva.
Albert Edelfelt-1885/Wikipédia

Mas quem pega e como pega?

O vírus da raiva, conhecido como Lyssavirus, é transmitido pela saliva do animal contaminado. Como assim? Tome nota! Seja pelo contato direto com gotículas da saliva de um animal infectado ou por mordidas, arranhões ou até lambidas em ferimentos ou mucosas, como os olhos e a boca, um animal saudável (e isso incluiu humanos!) pode contrair a doença. A pele intacta, porém, funciona como uma barreira que impede a entrada do vírus. Ufa!

O Lyssavirus pode infectar qualquer mamífero: desde cães e gatos até morcegos, saguis, vacas, cavalos e, como já deixamos claro, até nós, seres humanos! No Brasil, os cães são os principais transmissores nas cidades, enquanto os morcegos, como o Desmodus rotundus, lideram nas áreas rurais.

A raiva pode ser de duas formas: a ‘furiosa’ e a ‘paralítica’. Na primeira, a mais comum e que mais espalha o vírus, os infectados ficam inquietos, agressivos e sensíveis sons e luzes. Na segunda, os infectados parecem tristes, fracos e sem energia, e seus músculos vão paralisando aos poucos.

 O morcego Desmodus rotundus é líder de transmissões do vírus da raiva nas áreas rurais.
Foto Tomás Carranza Perales/BioDiversity4All/CC

Fases da raiva em humanos

Quando uma pessoa não toma os devidos cuidados e acaba infectada pelo vírus da raiva, ela tende a passar por três fases diferentes da doença:

Primeira fase: a pessoa sente dor de cabeça, febre, cansaço, enjoo e até perde a vontade de comer – sintomas que podem ser confundidos com uma gripe comum, mas é só o começo!

Segunda fase: depois de alguns dias, a pessoa pode ficar muito agitada, ter medo de água e de vento, produzir saliva em excesso e até demonstrar agressividade ou muita ansiedade – pode também sentir formigamentos e ter dificuldades para dormir.

Terceira fase: na fase mais grave da doença, a pessoa pode perder os movimentos, ter alucinações e entrar em coma – na maioria dos casos, já é tarde demais para se curar.

A corrida do vírus

Quando o temido vírus da raiva entra no corpo, geralmente por uma mordida, ele começa a se multiplicar nos tecidos próximos ao ferimento. Depois, pega carona nas células nervosas e invade o cérebro, onde causa grandes estragos, matando células e provocando inflamações perigosas. E os problemas não param por aí! O vírus segue se espalhando: atinge pulmões, coração e glândulas salivares, de onde pode “sair” pela saliva e fazer novas vítimas.

Esse processo de espalhamento do vírus dentro do organismo é chamado incubação e, geralmente, leva poucos dias – somente em casos extremamente raros os sintomas podem demorar meses a aparecer. Vale saber que, quando os sintomas aparecem, quase sempre é tarde demais para se curar. Por isso, é muito importante buscar atendimento médico depressa depois de um acidente, sobretudo mordidas, que possa transmitir a raiva.

Prevenir é sempre melhor

A melhor forma de enfrentar a raiva é com prevenção, começando, é claro, pela vacinação! Vacine seus animais todos os anos. A espetadinha rápida contra a raiva – chamada vacina antirrábica – protege seus bichos queridos da doença e evita que o vírus se espalhe para humanos. Fique de olho nas campanhas de vacinação na sua cidade e espalhe a notícia para que todos os animais à sua volta sejam vacinados!

Mas, se acontecer de você ganhar uma mordida ou um arranhão de um animal que não tenha certeza de que está vacinado, lave bem o local com água e sabão e procure assistência médica o mais rápido possível. Não espere os sintomas aparecerem!

Por último, respeite os animais silvestres. Admire morcegos e outros animais da natureza sempre à distância. Ah! E nunca toque em bichos que pareçam agitados ou doentes.

Contamos com você na prevenção à raiva, viu?

Para enfrentar a raiva, o melhor caminho é a vacinação dos animais domésticos.
Foto Agência Brasil/Divulgação

A raiva ainda existe

No Brasil, os casos de raiva canina quase desapareceram graças às campanhas de vacinação. Mas o perigo ainda existe, especialmente em áreas rurais, onde os animais domésticos podem entrar em contato com os silvestres, como os morcegos.

Em humanos, a maioria dos casos acontece porque as pessoas não procuram ajuda médica depois de uma mordida ou arranhão. Vale registrar que temos o Sistema Único de Saúde, o SUS, que oferece vacinas e atendimento gratuito para proteger todo mundo dessa doença perigosa.

Christine Ruta
Mariana Sampaio Xavier
Meriane dos Santos Paula
Instituto de Biologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Isis Abel Bezerra
Instituto de Medicina Veterinária,
Universidade Federal do Pará – Castanhal.

Matéria publicada em 01.09.2025

Comentários (21)

  1. Olá CHC,
    Somos do 3º ano da escola PEI Maria Stella de Cerqueira Cesar, em Marilia – SP…

    Amamos o artigo, não conhecíamos sobre tudo que foi falado nesse artigo, achamos muito interessante e vamos compartilhar com nossos conhecidos…

    Beijos,
    Até a próxima
    Turma da Professora Angélica

  2. LUAN TEYLON SANTO NASCIMENTO

    Olá meu nome é Luan , do 4 ano A, da Escola Delmira de Oliveira Lopes de Americana SP, hoje eu vou fazer uma carta sobre a raiva, eu gostei do seu artigo que fala sobre a raiva, eu sou Luan eu N nao sabia sobre essa doenca, eu aprendi hoje sobre a raiva e os animais que transmiti a raiva. voces poderiam vir pra apresentar algumas coisa sobre a doenca para agente qualquer dia nesse més para a gente sobre a doenca dos animais .tchau até outro dia

  3. Richard ribeiro Ferreira de freitas brito e Gixelle arihanna villafaña fuentes

    olá meu nome é Richard, e estou escrevendo com minha amiga do 4 ano A, Gixelle da escola Prof Delmira de Oliveira Lopes, a Prof Francielle mostrou a matéria da raiva da CHC, e gostamos muito, agora vou passar para minha amiga Gixelle. agora eu vou dar um exemplo da raiva: da dor de cabeça,enjoos e até entrar em coma. Gostaria de fazer um convite, venham a nossa escola falar sobre essa materia para todos seria o melhor de todos ou nos convidar para conhecer onde voces trabalham. Foi um grande prazer ler a materia na aula da prof.

    Tchau, beijos e abraços de Richard e Gixelle, até um diaaaaaaaaa!

  4. Eloá Santos e Mariana Vital

    Olá,Eloá e minha amiga Mariana, 4 ano A, da Escola Prof Delmira de Oliveira Lopes,Americana-SP.
    Gostaria de falar sobre (chc) Quando falamos de morcegos e da doenca da raiva durante nossa aula de lingua portuguesa, com a professora Fran, eu e minha amiga ficamos muito surpreendidas com o seu texto,esperamos que voce leiam nosso elogio e publiquem algo sobre fosseis.

    Beijos ! -^^-

    para – quem criou (chc)

  5. Sophia vitoria da Silva Siqueira

    Ola, Sou a Sophia e o Guilherme da Escola Delmira De Oliveira Lopes, da Cidade Americana sp, estou feliz em saber sobre a materia da raiva gostei muito dos desenhos da sua revista. Aqui na minha escola tem muitas revistas da sua editora, hoje minha professora falou da sua materia da raiva por causa do nosso livro de estudante do governo, e eu gostei muito. Voces poderiam vier um dia conhecer minha escola eu ficaria muito feliz porque gosto da sua materia e desenhos, seria um dia muito feliz e diferente, saber sobre ciencias na aula de ciencia da prof Fran.
    Um beijo e um abraco da melhor aluna da sala Sophia Vitoria!

  6. Esta narrativa esta didaticamente perfeita integrando o leitor, de maneira lúdica, a entender a importância da vacina como forma de prevenção da doença.
    É uma excelente produção acadêmica onde se propõe pronover um “grito de alerta” a sociedade dos perigos que ela esta exposta e não se dar conta.
    P A R A B É N S !!!

  7. Achei uma maneira bem lúdico para o esclarecimento para crianças e leigos. Será sempre bom estarmos atentos para não sermos vítimas da RAIVA.

  8. Muito necessário! Precisamos falar mais sobre isso!! Parabéns! Material esplêndido!

  9. porque ninguem mandou comentarios ?

  10. Que artigo legal!

  11. Olá pessoal da CHC
    Eu sou o Pedro estudante do 4-B da escola Padre José de Carvalho. Eu achei o artigo bem detalhado e eu observei que devemos prestar atenção nos nossos animais de estimação para ver se eles tem algum sinal do vírus para ficarmos atentos.

  12. FERNANDA SOUZA DE FIGUEIREDO DINIZ

    Importante

  13. FERNANDA SOUZA DE FIGUEIREDO DINIZ

    Interessante pois conta sobre fatos importantes e é divertido

  14. Olá !
    Sou o Cauan, tenho 9 anos li o artigo : Que raiva é essa?
    Gostei muito, tenho duas gatas e achei as informações muito importantes, principalmente a prevenção da doença. A vacinação dos animais.
    Um abraço!
    Cauan

  15. Cauan Bernardo Vovio Osório

    Olá !
    Sou o Cauan, tenho 9 anos li o artigo : Que raiva é essa?
    Gostei muito, tenho duas gatas e achei as informações muito importantes, principalmente a prevenção da doença. A vacinação dos animais.
    Um abraço!
    Cauan

  16. ANA GRAÇA COSTA MARQUES SERRA

    EU AMEI O ARTIGO! ESTOU TOMANDO A VACINA ANTIRRÁBICA E APRENDER MAIS SOBRE ESTA VACINA E SOBRE O VÍRUS DA RAIVA, FOI MUITO LEGAL! OBRIGADA, CHC!
    ABRAÇOS, ANA GRAÇA!

  17. gostei muito .eu gostaria que vcs fizessem uma reportagem sobre carro.

    obrigado

  18. Gostei do conteúdo do artigo sobre a raiva e aprendi que ela é uma doença muito perigosa! Parabéns e gostaria de ler mais artigos do tema.

  19. Oie meu nome é Isadora e eu gostei bastante sobre a matéria da raiva eu achei que a raiva era apenas um sentimento não uma doença séria e perigosa. Continuem assim.

  20. Olá chc
    Meu nome é emilly eu gostaria que vcs publicarem sobre que a raiva machuca outros pq ela é muito forte é machuca outras pessoas eu estou usando o celular da minha mãe. Beijos e abraços chc.

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