Uma reunião pela vida

Imagine que você está sobrevoando a Amazônia e, de repente, vê um local com grandes navios atracados no porto e muita, mas muita gente mesmo, circulando em um determinado espaço. Se a data desse seu voo for entre 10 e 21 de novembro de 2025, pode apostar que a cidade lá embaixo é Belém, capital do Pará, e a razão de todo esse movimento é a COP30, uma reunião fundamental para discutir questões que dizem respeito à vida de todos nós. Você sabia disso?

Ilustração Irena Freitas

Se curiosidade é uma de suas principais características, você deve estar se perguntando o que significa COP e qual é o tema dessa reunião tão importante. Então, guarde bem! COP é a sigla para “Conferência das Partes”. As partes, por sua vez, são 197 países (mais a União Europeia, conjunto de 27 países da Europa) que assinaram um documento chamado Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima – UNFCCC, na sigla em inglês. 

Os países que assinaram esse documento se comprometeram a diminuir a emissão de gases que causam o efeito estufa. Ou seja: essa reunião é sobre o futuro do nosso planeta, sobre a vida! Mas vamos entender isso melhor…

Motivo de alerta

No último século, a quantidade de indústrias no mundo cresceu absurdamente, e, para funcionar, elas precisam de energia, certo? Como a energia que elas utilizam vem, em grande parte, da queima de combustíveis fósseis (como os derivados do petróleo), e essa queima gera como resíduos muitos gases que ficam presos na atmosfera, dizemos que a atividade industrial contribui para o aumento do efeito estufa. 

É importante lembrar que o efeito estufa é um fenômeno natural indispensável para a vida na Terra e funciona, mais ou menos, assim: a luz do Sol aquece a superfície do planeta e parte desse calor fica retido aqui por ação dos chamados gases de efeito estufa presentes na atmosfera (como o gás carbônico, por exemplo). Sem esse efeito, a Terra ficaria muito fria e não haveria a vida, a diversidade de espécies, como conhecemos hoje.

Mas o que prejudica a Terra é o aumento do efeito estufa, que ocorre por diversos motivos e tem como principais agravantes o crescimento das indústrias e também a retirada da vegetação natural que cobre o solo (para dar lugar a grandes áreas de agricultura e de pecuária), porque quanto menos vegetação mais gás carbônico se concentra na atmosfera. Aí, vem o excesso de aquecimento e, com ele, muitas mudanças no clima.

Uma consequência desse superaquecimento é o aumento dos chamados eventos climáticos extremos. Isso quer dizer que teremos, por exemplo, verões cada vez mais quentes e chuvas em excesso, capazes de alagar cidades inteiras, com uma frequência cada vez maior (lembra-se das enchentes no Rio Grande do Sul, em 2024?). Já observamos também o derretimento das calotas polares, que fazem o nível do mar subir e inundar várias áreas de litoral. Com isso, alguns países que são ilhas – como Tuvalu, na Oceania – estão destinados a desaparecer do mapa. 

Enchente no Rio Grande do Sul, em 2024: consequência das mudanças climáticas.
Foto Ricardo Stuckert/Wikipédia

Identificando responsabilidades

Talvez você esteja pensando que nem todo mundo é responsável pelo aumento da emissão dos gases de efeito estufa nas mesmas quantidades, e isso é verdade! Os países ricos são muito mais responsáveis pelo aquecimento global do que os países em desenvolvimento. Por isso, a UNFCCC, aquele documento de compromisso entre as partes, criou o “princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas”. Isso significa que os países que mais contribuíram para a crise climática devem ser os mais ativos para remediá-la. 

Atualmente exige-se que os países ricos contribuam com determinada quantia anual para ajudar os países em desenvolvimento em suas metas de redução de gases do efeito estufa, e esse valor não é baixo. Em 2025, a contribuição estimada é 1,3 trilhão de dólares! Mas já se perguntou como começaram as discussões sobre os problemas climáticos decorrentes das ações humanas?

A primeira COP aconteceu em 1995, em Berlim, na Alemanha. A partir daí, a reunião passou a acontecer todo ano. A grande luta das COPs é contra a emissão dos gases do efeito estufa. Ou seja, temos que buscar gerar energia a partir de fontes mais limpas, como a eólica (que vem dos ventos) e a solar (que vem do Sol). Essas fontes também têm os seus problemas, mas são muito menos impactantes para o planeta do que o petróleo! Além disso, temos que repensar nossa forma de consumir: cada produto que compramos que vem das indústrias usou energia para ser produzido, e, portanto, ajudou a emitir gases de efeito estufa!

Aerogeradores transformam a força do vento em energia elétrica com menor impacto ambiental.
Foto Freepik

Meta definida

Foi na COP15, realizada em Copenhague, na Dinamarca, que uma meta importante foi definida: o objetivo de impedir que o planeta fique 1,5 grau Celsius mais quente do que ele era antes de as indústrias se espalharem pelo mundo todo. Você pode achar que 1,5 ºC é muito pouco (afinal, quando a temperatura sobe só isso em um dia, quase não notamos diferença). Mas cientistas do mundo todo pesquisaram muito para estabelecer esse número. Fizeram o cálculo de uma temperatura média, considerando que algumas regiões esquentam mais do que as outras, e concluíram que essa alteração já é suficiente para subir o nível dos oceanos e levar a consequências muito perigosas. Para mantermos esse aquecimento em “apenas” 1,5 ºC, o mundo tem que reduzir em quase metade a emissão de gases do efeito estufa até 2030!

Na COP21, realizada em Paris, na França, no ano de 2015, foi assinado um acordo climático ainda mais ambicioso! Ele estabeleceu que os países teriam que ter metas oficiais para o corte das emissões de gases do efeito estufa. Mas, infelizmente, os Estados Unidos, que são o segundo país que mais emite esses gases no mundo, anunciaram que deixarão o acordo de Paris em 2026. 

Infelizmente também, a COP28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e a COP29, em Baku, no Azerbaijão, foram consideradas grandes fracassos. Esses dois países são grandes produtores de petróleo, e as negociações, em vez de conseguirem acordos para diminuir a emissão dos gases do efeito estufa, uma necessidade comprovada pela ciência, acabaram privilegiando os interesses dos grupos que ganham dinheiro com a exploração do petróleo…

A COP30, no Brasil

A escolha de Belém como sede da COP30 tem um significado muito importante. A cidade está localizada na Amazônia, bioma cuja necessidade de preservação é reconhecida mundialmente. Manter a floresta de pé é importante não só para o Brasil, mas para o mundo inteiro, porque a preservação da sua vegetação colabora para frear o aquecimento global.

Vista da Amazônia Paraense cortada pelo rio Tapajós.
Foto Marizilda Cruppe/Wikipédia

Então, o objetivo dos organizadores é que uma COP na Amazônia garanta o compromisso com o fim do desmatamento, com uma diminuição real do uso de combustíveis fósseis e com a ajuda dos países ricos aos países em desenvolvimento nas suas metas de redução da emissão de gases de efeito estufa. 

Sabemos que os objetivos da COP, ainda que importantíssimos, são muito delicados, porque são contrários aos interesses de quem ganha muito dinheiro com o uso dos combustíveis fósseis e com o desmatamento para a produção e comercialização de produtos da agricultura e da pecuária. Mas também sabemos que, se quisermos limitar o aquecimento do planeta a 1,5 ºC, nossas metas têm sim que ser ambiciosas. 

Pode apostar que, junto com a COP, vai ter muita gente nas ruas de Belém pressionando e lutando para que as metas sejam alcançadas. Sabe por quê? Porque defender essas metas é defender a existência de um mundo possível para todos nós! 

Para saber mais sobre questões relacionadas às mudanças climáticas em uma fonte confiável de informação, acompanhe o “Observatório do clima” no Instagram (@observatoriodoclima) e no YouTube. Esse grupo também tem um site chamado “Central da COP”, que acompanha todos os preparativos e acontecimentos do evento!

João Gabriel Ascenso
Colégio de Aplicação
Universidade Federal do Rio de Janeiro

Matéria publicada em 01.10.2025

Comentários (11)

  1. Maria Helena Miranda da Silva

    Artigo importantíssimo, muito bem escrito, didático e objetivo. Muito esclarecedor para crianças e até mesmo adultos que não estão inteirados do assunto.
    Que seja muito utilizado em escolas e nas conversas em família!
    Parabéns ao autor, João Gabriel Ascenso.

  2. Maria Helena Miranda da Silva

    Matéria de muita relevância!
    Texto claro, didático. Muito bem escrito. De fácil compreensão pra crianças e até mesmo para adultos que não estão interados do assunto.
    Importante a utilização em escolas e até mesmo nas conversas em familia.
    Parabéns ao autor, João Gabriel Ascenso.

  3. Luísa de Oliveira Freitas

    Amei essa página aprendi muito

  4. Olá, CHC! Meu nome e Pedro.li a reportagem ´´uma reunião pela vida e gostei muito. Até logo.

  5. O artigo é muito interessante e traz informações essenciais sobre a COP30 e a importância desse evento para o futuro do planeta. Ele explica de forma clara como as ações humanas estão causando o aquecimento global e mostra o papel fundamental da Amazônia na preservação do clima.
    É um texto que desperta consciência e mostra que proteger o meio ambiente é uma urgência para garantir um mundo melhor para todos.

  6. nicolas (aluno da escola pitagoras 2)

    olá joão gabriel ascenso gostei do seu texto estava incrivel a parte que eu masi goostei de ler foi o motivo de alerta

  7. Lavínia Araújo de Macêdo

    Olá CHC! Eu li a matéria sobre a COP 30 , e eu achei muito interessante! Eu não moro em Belém mas queria acompanhar o movimento de perto! Eu também tenho uma sugestão para o mundo melhorar: se em aparelhos eletrônicos existissem um limite de consumo, se os aparelhos continuam sendo usados ativam economia de energia.
    Beijos lalá.

  8. Olá, pessoal da CHC meu nome é Guilherme e eu tenho 10 anos gostei muito de aprender sobre o porco-do-mato.E aprendi muito gostaria de que vocês também fizessem uma revista do tigre um abraço Guilherme.

  9. Oi ,CHC a qui é a Lorena e eu gosto muito de vocês eu
    adoro ler suas revistas hoje acabei de ler a revista 370
    ( uma reunião pela vida) e eu adoro aprender cada dia
    mais com vocês e eu amo o corpo humano e acho que
    seria muito legal se tivesse uma sobre o corpo humano .

    Tchau bjs!

    Lorena Silva Marra

  10. Essa matéria foi muito bem elaborada. Parabéns.

  11. Alunos do 5.º ano A da escola Otílio de Oliveira. (Prof.ª Rosana)

    Olá CHC, somos alunos da escola Otílio de Oliveira, localizada em São Bernardo do Campo.
    Achamos o texto muito bem escrito, porém nossa professora precisou esclarecer algumas coisas, como recordar alguns conteúdos como o Efeito estufa.
    Gostamos também, da meta que foi estabelecida entre os países, a escolha da cidade de Belém do Pará que também fica na Amazônia.
    Os demais
    O texto foi muito importante, Mas não muito fácil de entender devido a importância do tema, pois muitos nem se quer conhecem o assunto e deveria ser mais divulgado, inclusive para crianças menores com textos em HQ.
    Sugerimos outro tema de bastante importância, o desmatamento e sobre o Efeito Estufa e a emissão de carbono. Há, e também materia sobre piadas, já que nossa turma adora dar boas risadas.
    Por fim, aprendemos muito com sua matéria João Gabriel.
    Parabéns!

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